Sociolinguística: uma introdução critica Vol.02, 12/2004.

NTRODUÇÃO

Sociolinguística: uma introdução crítica. A obra de Louis-Jean Calvet1 tem por objetivo apresentar os princípios básicos da teoria Sociolinguística. O livro se inicia com uma apresentação do pesquisador Marcos Bagno2. Nela, ressalta a importância da publicação para o meio acadêmico, principalmente os relacionados ao estudo de línguas. Na introdução, o autor da obra em questão deixa claro que a linguística surgiu com o desejo de Saussure3 em criar um modelo, a língua, a partir dos atos de fala. Além de destacar as diversas correntes filosóficas a respeito dos fenômenos da língua e a sociolinguística. O autor deixa evidente a importância de se considerar nos estudos linguísticos a afirmação de William Labov4 de que, se a língua é um fato social, a linguística então só pode ser uma ciência social. Finaliza essa parte ao dizer que a Sociolinguística floresce, multiplica suas abordagens e terrenos. Para Jean, o seu livrinho ocupa-se de trazer um pouco de ordem a essa profusão. Essa abundância, evidentemente, remete às muitas vertentes filosóficas dos estudos linguísticos. O livro, com 176 páginas, está dividido em seis capítulos – organizados em tópicos bem generosos em suas explicações. Também destacamos uma parte dedicada à conclusão; bibliografia; guia de leitura; glossário e índice de nomes.

A parte que faz a apresentação da obra registra a importância de ser uma literatura de estudo e pesquisa e em sua introdução, o autor revela que a Linguística nasceu das ideias do pesquisador franco-suíço Ferdinand de Saussure.

RESENHA

Como havíamos dito anteriormente, o livro de Calvet se organiza em seis capítulos, dos quais, o capítulo primeiro é alvo de nosso trabalho.

O capítulo primeiro da obra de Jean Calvet tem como título principal “A luta por uma concepção social da língua” e é ordenado em cinco tópicos finalizados por uma conclusão que encerra o capítulo.

No primeiro tópico, intitulado “Saussure/Meillet: a origem do conflito” busca-se distinguir concepções conflitantes entre ambos. Para Meillet, o caráter social da língua a inclui como um fato social e o filia às concepções do sociólogo Émile Durkhein. Para Jean Calvet, Saussure e Meillet se distinguem quando este considera o caráter social da língua, e sua obra converge para uma abordagem interna e de uma abordagem externa dos fatos da língua e de uma abordagem sincrônica e diacrônica desses mesmos fatos. Quando Saussure opõe linguística interna e linguística externa, aquele as associa. Meillet se vê em conflito entre fato social e o sistema que tudo contém: para ele não se chega a compreender os fatos da língua sem fazer referência à diacronia, à historia. Enquanto Saussure busca elaborar um modelo abstrato da língua. “por ser a língua um fato social resulta que a linguística é uma ciência social, e o único elemento variável ao qual se pode recorrer para dar conta da variação linguistica é a mudança social” diz Meillet. Assim, segundo tais ideias se aproximam em muito das concepções de William Labov.

O próximo item, “As posições marxistas acerca da língua”, revela-nos à língua como instrumento de poder e sempre marcada pela divisão da sociedade em classes. Em estudos realizados por Lafargue5 encontramos a primeira tentativa de uma análise sociológica da linguagem. Das maiores discussões nesse item, o pensamento de Nicolai Marr parece permear a historia linguística na URSS. O pensamento de Marr preconizava uma língua única com a ideia de que as línguas refletem a luta de classe e que o advento mundial do socialismo pudesse provocar o aparecimento de uma única língua. Calvet encerra esta parte do capitulo I (um), afirmando que a história linguística na União Soviética só fez recuar o ponto de vista sociológico na linguística e que não pode haver sociolinguística sem sociologia.

No item três do capitulo I(um), “Bernstein e as deficiências linguística”, a situação sociológica dos falantes, que fora a miúdo vista no marxismo, será exposta por Basil Bernstein de forma a dar início à outras concepções linguísticas. Em certo sentido, ao criar os conceitos de código restrito e elaborado, em referência às classes dos meios desfavorecidos e das classes favorecidas, mostra origem no pensamento das formas de solidariedade distinguidas por Durkhein. Jean Calvet esclarece nesse item a importância de Basil na história da sociolinguística, quando diz ser o pesquisador o catalisador de uma aceleração rumo a uma concepção social da língua.

O item quatro (4), “William Bright: uma tentativa de síntese”, mostra uma tentativa de se definir sociolinguística. Mas Bright, entendendo linguística como relações entre linguagem e sociedade, deixa uma concepção vaga, e esclarece que a sociolinguística tem por tarefa revelar que a variação ou a diversidade não é livre, mas correlata às diferenças sociais sistemáticas6. O pesquisador estabelece algumas dimensões para a sociolinguística, e a interação em pelo menos duas dessas dimensões revela-se o objeto de estudo da sociolinguística. Para ele, os fatores condicionantes da diversidade linguística estão na identidade social do falante, a identidade social do destinatário e o contexto. Tais fatores, traz a ideia básica da teoria da comunicação e, permite à Bright a partir de quatro dimensões definir os fatores que condicionam a diversidade linguística. As dimensões são: - a oposição sincronia/diacronia; - os usos linguísticos e as crenças a respeito dos usos; - a extensão da diversidade, como uma tríplice classificação: diferença multidialetal, multilingual ou multissocietal; - as aplicações da sociolinguística, com mais uma classificação em três partes: a sociolinguística como diagnóstico de estruturas sociais, como estudo do fator sócio-histórico e como auxílio ao planejamento. Assim, com este pensamento, o pesquisador entrevê a sociolinguística anexa à linguística, sociologia e antropologia. Tal pensamento de subordinação, aos poucos tende a desaparecer na obra de Labov.

É no item cinco (5), “Labov: a sociolinguística é a linguística que Jean Calvet deixa claro o que distingue Labov dos demais pesquisadores da língua. Mesmo que Meillet tenha levado a sério a definição da língua como fato social, este somente trabalhou com línguas mortas. Labov por outro lado, trabalhou continuamente com situações contemporâneas concretas. Seu trabalho resultará mais tarde na corrente filosófica “linguística variacionista”. O laço que une Labov à Meillet é a concepção da “evolução da linguagem no seio do contexto social formado pela comunidade linguística”. A diferença entre linguística e sociolinguística não existe, mesmo quando a sociolinguística leva em conta o aspecto social das línguas. Por outros termos, a sociolinguística é a linguística.

Finalizando o capitulo I (um), item seis (6), intitulado “conclusão”, Louis-Jean Calvet revela que os anos de 1970, ao eclodir uma infinidade de publicações resaltando a sociolinguística. – vão constituir uma virada para que a sociolinguística seja vista efetivamente como uma ciência linguística a promover uma concepção social da língua.

O livro como um todo, de aspecto didático, proporciona uma leitura intuitiva e instrutiva, agradável e reveladora para os leitores havidos pesquisadores dos fenômenos linguísticos. Desenvolvendo-se, de maneira geral, com clareza e objetividade traz considerações importantes na apresentação feita por Marcos Bagno, quando afirma ser o livro a primeira publicação de introdução à sociolinguística e um instrumento de denuncia contra a concepção de língua como instrumento de dominação e de exclusão social.

O capitulo resenhado, “A luta por uma concepção social da língua”, é fonte importante de informação para pesquisadores da língua e busca formar o entendimento de que a língua sendo um fato social só pode ser considerada heterogênea em suas manifestações dentro dos variados contextos sócias de realização.

O valor da obra não pode ser avaliado por uma simples resenha do primeiro capitulo, mas, como conhecedor da obra, posso garantir a excepcionalidade do livro de Louis-Jean Calvet, por nos conceder literatura de tão grande valor para os estudantes, professores e pesquisadores da língua. Sendo assim, recomendo a todos esta magnífica obra.

José Roberto Pinto
Enviado por Roberto Ramón em 03/06/2016
Código do texto: T5655984
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