RAY BRADBURY: A MORTE É UMA TRANSAÇÃO  SOLITÁRIA

" - Você tem imaginação. Ontem, lá na banca do Abe, li um conto seu sobre um homem que descobre ter um esqueleto dentro dele, o que o deixa morto de pavor. Cristo! Achei uma beleza. Como você consegue ter ideias como essa?
– Bem, tenho um esqueleto dentro de mim.
– A maioria das pessoas não se dá conta disso…”.

 
Quando era mais jovem tinha um amigo mais velho que se chamava S. ele hoje é um renomado professor Doutor em Filosofia de uma universidade do Brasil, mas nessa época já era um leitor voraz e um gatuno de livros, ele "metia" os livros literalmente nas calças e saía vendendo e dizia que tinha "expropriado" uma livraria capitalista. Depois ele vendia esses livros ou até presenteava aos amigos. Eu não sabia que os livros que ele me vendia ou me dava era fruto dessas "expropriações". Mas uma vez ele chegou a minha casa me falando de um autor de ficção maravilhoso que eu não conhecia era uma novela chamada A morte é uma transação solitária(Editora: Bestseller,1986)  de Ray Bradbury (1920-2012) , autor de Fahrenheit 451 e de Crônicas Marcianas(1950), dentre outras obras. Meu amigo não me vendeu o livro pediu apenas que eu o lesse, pois me disse que eu iria gostar muito. Disse, claro com todo prazer. E nesta noite assim que esse meu amigo que nunca mais vi se foi, abri o livro e comecei a lê-lo sem pestanejar, confesso que sou um leitor lento, leio devagar volto páginas, paro, tomo um café volto a ler, fico nesse lenga-lenga,   enfim, mas esse livro foi um dos poucos que li de uma vez só avancei madrugrada à dentro e quando conclui a leitura o sol estava despontando. 
O livro de Ray Bradbury narra a história de um escritor iniciante e o palco de sua narrativa se dá em Venici, uma cidadezinha do Sul da Califórnia, o personagem principal encontra-se num  bonde vermelho indo a Venice, quando um sujeito lhe aborda e lhe diz baixinho " A morte é uma transação solitária". Ao chegar em Venice o personagem se vê diante de um corpo lançado ao rio numa jaula de leão; fragilizado com tal acontecimento , ele  entra em  pânico e  grita forte e alto até que moradores acionam a polícia e é assim que o personagem central do enredo trava contato com o investigador de polícia Crumley que passa investigar esse misterioso crime e outros que se sucedem.   Esse acontecimento é central e o personagem crê que o responsável pelas mortes é aquele sujeito  que ele encontrou no bonde. Ele  reside ao lado de  um cemitério de brinquedos e de um parque de diversões.  O autor na medida em que o enredo vai se desenrolando nos apresenta a figuras exóticas que vão se somando a trama e ao mistério. Não posso esquecer de  Fannie,  ex-cantora de ópera que vive reclusa em seu aposento devido ao fato de ser extremamente obesa ; Constance Ratigan, uma atriz experiente de cinema mudo, mas que ainda dispõe de silhueta atraente;  William Smith, personagem que o leitor passa diversas páginas tentado  descobrir quem é. Na transição entre um personagem e outro, e sem estabelecer nexos aparentes o autor provoca uma certa confusão, mas a desorientação nos instiga a toda hora. Não posso esquecer de Cal, o cabeleireiro lunático;   Shrank, o psicanalista neurótico e niilista; Henry, o cego com sua inteligência perspicaz, dentre outros personagens marcantes. É difícil caracterizar a obra de Bradbury ela pode ser vista como romance fantástico, permeado com a receita clássica de romance policial, Bradbury brinca com estilos mas o que fica da leitura do romance é aquele clima noir e mágico que só um escritor brilhante pode nos brindar. É sem dúvida alguma um dos melhores livros que já li e ele nos transpõe a ambientes mágicos que muito se aproxima da literatura fantástica escrita por Gabriel Garcia Márquez. Ler Bradbury é um convite ao sonho, ao ónirico e a fantasia, com uma pitada de bizarrice e de encanto.     
Labareda
Enviado por Labareda em 08/07/2016
Reeditado em 16/10/2019
Código do texto: T5691496
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