Emílio: a pré-puberdade

UM COMENTÁRIO ACERCA DA PRÉ-PUBERDAE

Em consequência de Rousseau iniciar o Livro III com a pré-puberdade, também começaremos com ela. Pré-puberdade. O período mais próximo da adolescência, que permeia entre os doze ou treze anos. Nessa idade, o progresso das forças ultrapassa o das necessidades, ou seja, as forças são mais que suficientes para prover as necessidades e, por esse motivo, a criança se adapta facilmente a qualquer situação ou circunstância. Sua pior parte ainda não se revelou e, não obstante, seu próprio organismo não está completamente desenvolvido. Realiza tudo o que anseia, como quando tem sono, se estende no chão e dorme e, da mesma forma, não possui o imaginário aguçado, só necessita daquilo que está dentro de suas possibilidades, ao seu domínio. São quase tão valentes quanto seus mestres, mas a diferença é sustentada em seus desejos limitados. Esse é o tempo mais precioso da vida e, igualmente, o mais curto. É o percurso dos exercícios intelectuais, da educação e não somente da instrução, sendo que todos, salienta Rousseau, indicados pela natureza.

Natureza. A idade que delimitamos é considerada adequada à faculdade de pensar, entender, raciocinar, interpretar... Logo, por ser uma fase que passa de maneira instantânea, Rousseau diz que não devemos ensinar as ciências à criança, visto que pelo limite da natureza humana, o conhecimento primordial para a constituição do homem sábio é aquele que contribui para aquilo que lhe for útil, sendo assim, é preciso afastar os conhecimentos que demandam um espírito já formado, como os estudos especulativos e as noções morais. No contato da criança com o diferente meio natural, em nenhum momento podemos dar respostas às perguntas que propusemos para lhe despertar a curiosidade do novo ambiente, mas sim deixar que adquira a informação útil das coisas por meio do que a cerca. Somos apenas mediadores, ajudando a originar o interesse por algo, como por exemplo, quando a levamos para a praia, um lugar totalmente estranho, ela que irá desenvolver a função de observadora, assimilando e concluindo as ideias em torno do ambiente. De tal modo, finalizando: “Tornai vosso aluno atento aos fenômenos da natureza e logo o tornareis curioso; mas, para alimentar sua curiosidade, nunca vos apresseis em satisfazê-la. Colocai questões ao seu alcance e deixai que ele as resolva”.

Curiosidade. Por isso é certo que se dê atenção especial aos fenômenos da natureza: torna qualquer aprendiz cheio de ânsia. Para habituá-lo a ser atencioso e se impressionar com as verdades sensíveis, que permaneça oscilante por algum tempo antes que descubra essas verdades. Introduzimos o problema e deixamos que resolva, para que ele tenha o discernimento só daquilo que souber compreender por si mesmo, tornando-se pensativo e não questionador. Com essa capacidade inata de inquirir sendo engendrada, Rousseau recomenda apresentar perguntas que direcione a criança ao caminho de obter uma resposta. Mas, ao propor essas perguntas, não as respondemos, assim, abrimos espaço para a combinação de ideias sendo composta nas operações de entendimento da criança. Cabe ao aluno desejar, procurar e encontrar o que ele quer aprender e, ao professor, se denota a função de pôr o encargo de aprendizagem à disposição do aluno, também sendo incumbido de fazer nascer o desejo, assim como fornecer os meios para satisfazer tal aspiração. A criança deve ser orientada quando for indispensável, mas sem perceber. Os erros não serão corrigidos, deixando-os por conta da mesma. Aquilo que aprender, que seja pouco, mas que o saiba bem. Diante de suas questões, nunca responderemos mais do que o necessário para satisfazer sua curiosidade.

Agora não mais a curiosidade, mas a utilidade. Não podemos exigir da criança o que é importante estar a par somente para um homem. À criança, ensinamos o que é útil em sua idade e a não sentir vontade de saber nada a não ser o útil. Quando o aluno passa a ter uma noção da palavra útil, tem-se mais um meio de orientá-lo. Sendo assim, a pergunta “para que serve isto?” é determinante em todas as ações. É uma pergunta que acompanha todas as outras e serve de freio às que são tolas e impertinentes. O preceptor deve fazer com que a criança aprenda só aquilo que pode conceber bem. Vamos registrar o caso de Emílio. Observou, examinando com seu educador a posição da floresta ao norte de Montmorency e, logo perguntou, por qual razão, para que fim estar fazendo tal atividade. Rousseau concorda com o menino, completando que, se essa experiência não foi proveitosa, não iriam voltar a ela. Porém, no dia seguinte, dirigiram-se a um passeio, com Emílio repleto de ânimo. Subiram pela floresta e se perderam, não sabiam onde estavam e, quando chegou a hora de ir embora, não conheciam o caminho de volta. Porém, com a observação do dia anterior, eles conseguiram determinar os pontos cardeais do lugar em que se encontravam e voltaram para a cidade, desse modo, Emílio prontificou-se de dizer que a astronomia lhe serviu para alguma coisa.

Concluindo com o ofício. Para tratar sobre esse assunto, o espírito tem a missão de guiar e direcionar a escolha de um ofício à criança, mas que seja algo de sua vontade, excluindo as profissões ociosas, levianas ou sujeitas à moda. Pois, naturalmente, jamais devemos gastar inutilmente o tempo com coisas vãs. O valor que é preciso atribuir às coisas é o da utilidade real: um cargo que possa servir a Crusoé em sua ilha. É necessário que a criança seja conduzida a passar pelas produções da natureza e das artes, instigando sua curiosidade, para que se possa estudar seus gostos, inclinações e tendências. Deve-se evitar o erro de achar que este ou aquele interesse seja a manifestação de um talento.

A pré-puberdade... Envolvida na transmissão de conhecimento através dos meios naturais, associada com o despertar da curiosidade do ser. Ah! A utilidade... A criança também tem que aprender somente o que lhe for útil e, junto com suas ambições e vocações, desenvolverá um talento propício à determinada profissão. A educação proposta por Rousseau é interessante. Buscando condições próprias para que a criança possa preencher suas necessidades a fim de se tornar robusta e bem desenvolvida, aperfeiçoando, melhorando e progredindo conforme seu processo de maturação, completamos que é indispensável acompanhar seu desenvolvimento natural, biológico e cognitivo, uma vez que é convidativo para o educador estimulá-la ao estudo, aos exercícios relativos ao aprendizado e também aos acontecimentos naturais. Sendo assim, o papel do mestre é orientar o trabalho educativo para os estágios de desenvolvimento ainda não alcançados pelo aluno, impelindo novas informações e novas conquistas, constituindo uma ação colaborativa entre o educador e o aprendiz, procedendo e agindo de forma determinando e eficaz no processo de educação.

Nonname
Enviado por Nonname em 28/05/2017
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