Frei Fabiano de Cristo é um santo brasileiro?

FREI FABIANO DE CRISTO É UM SANTO BRASILEIRO?
Miguel Carqueija


Resenha do livro “Frei Fabiano”, de Frei João José Pedreira de Castro OFM, livro aparentemente sem editora e patrocinado pela CAPEMI, além de impresso nas oficinas da Vozes, em Petrópolis. Pelo menos esta quarta edição com imprimatur do admirável bispo de Petrópolis, Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, e Frei Desiderio Kalvenkamp OFM (Petrópolis, 12/1/1957). Pela introdução sabemos que esta biografia já estava escrita em 1930.

Frei Fabiano (8 de fevereiro de 1876 – 17 de outubro de 1747) nasceu em Portugal mas veio se estabelecer no Brasil, onde exerceu o comércio mas de pois se fez frade franciscano; por sua biografia vê-se que é um santo brasileiro, ainda não canonizado. Não era sacerdote, mas irmão leigo; nessa condição humilde, como porteiro e depois enfermeiro no Convento de Santo Antônio (o mesmo que até hoje adorna o Largo da Carioca, no Rio de Janeiro), granjeou fama de santidade. Era humilde, amigo dos pobres, zeloso com a religião católica, e grandes prodígios manifestaram-se após a sua morte.
Uma coisa que se nota na sóbria biografia de Frei João José é a escassez de dados que o eminente autor tem de administrar. São poucos os livros, poucas as fontes históricas de que ele dispõe. Afinal, a vida de Frei fabiano correu na humilde obscuridade, apesar da fama de santidade que acabou cercando o seu nome e acarretando extraordinárias manifestações populares quando dos funerais. Eis alguns tópicos extraídos da obra:
“O primeiro sinal, tido por extraordinário, que chamou a atenção de todos os circunstantes foi a flexibilidade do seu cadáver. Nele nada se notou da rijeza cadavérica, o rigor mortis, que devido à forte contração dos músculos se observa nos cadáveres de 1 a 24 horas depois da morte.” (pg. 165, cfr. “Eco sonoro”)
Devido à moléstia Frei Fabiano nos últimos dias tinha o rosto lívido e amortecido, em que se reconhecia a velhice com seus muitos achaques. Qual não foi, pois, a geral admiração ao notarem todos que “depois de amortalhado, passadas pouco mais de duas horas, o seu semblante se foi tornando alegre e risonho.” (pg. 166-167, cfr. “Pequenos na Terra”), com cores tão naturais como se estivesse vivo” (pg. 167 – cfr. Livro do Tombo, testemunho de Dom Antônio do Desterro), e assim se conservou “até mais de vinte e seis horas que já estava morto” (pg. 167, op. cit.).
Deve-se notar que Frei Fabiano era um homem doente, que atingiu idade considerada avançada na época, mas em meio a sofrimentos, dores, privações e, inclusive, às severas penitências que fazia em sua vida religiosa. Não que ele exagerasse em penitências inconcebíveis, mas ia bem além da média dos cristãos (e por sinal muitos cristãos não praticam penitência alguma).
O autor da biografia insiste no caráter do biografado, caráter esse todo voltado para Deus e para as coisas de Deus. Pinçando ao acaso eis o que podemos ler na página 94:

“Sumo apreço e devoção especialíssima consagrava o nosso Irmão ao santo Sacrifício da Missa.
De madrugada, quando a primeira Missa era celebrada, já lá estava na sacristia, pronto para ajudá-la. Costumavam a esta hora celebrar os Padres Colegiais. Frei Fabiano servia de acólito a quantas Missas podia. Subia em seguida à capela da enfermaria para ajudar as que aí se costumavam dizer e, terminadas essas, de novo voltava á igreja a ver se alguma Missa ainda havia que pudesse acolitar.”

Em 3 de abril de 2014 o grande Papa Francisco canonizou o nosso terceiro santo, o querido José de Anchieta (já tínhamos Santa Paulina e o Santo Frei Galvão). Quem sabe podemos nós, brasileiros, fazer agora um esforço pela causa da canonização de Frei Fabiano de Cristo?

Rio de Janeiro, 12 de março a 6 de abril de 2014.