Um clássico do terror psicológico

Quem ama um bom livro de terror psicológico, com certeza, vai se deliciar e angustiar enquanto acompanha as desventuras de quatro crianças presas num quarto durante todo o dia, perguntando-se quando poderão sair e sujeitas a todo tipo de tortura psicológica e ameaças de torturas físicas tendo apenas uma à outra para sobreviver a essa experiência sombria. Esse é o enredo básico de O jardim dos esquecidos, de V.C.Andrews, romance norte-americano de grande sucesso que choca e comove ao mostrar, de forma lenta, como numa tortura chinesa, o confinamento e sofrimento a que são submetidos quatro irmãos: Chris, Cathy e os gêmeos Cory e Carrie, crianças bonitas, louras e de olhos azuis que são chamadas de "as bonecas de Dresden". Cathy, uma das crianças, é quem começa narrando a história com amargura, dando-nos a entender que sobreviveu a uma terrível provação e que agora, mesmo adulta, ainda carrega cicatrizes do que viveu.

Os quatro irmãos viviam uma vida feliz com o pai e a mãe, um casal bonito e bem de vida até o dia em que o pai morre num trágico acidente automobilístico e a mãe, Corrine, por não ter qualificações para sustentar a si e aos filhos, escreve cartas para uns parentes que vivem em outra cidade e diz aos filhos que tais parentes são ricos e eles viverão como príncipes, convencendo-os a se mudar. Chris, o primogênito, otimista convicto, fica entusiasmado mas Cathy, a segunda filha, de natureza desconfiada, acha que há algo muito errado, pois a mãe nunca mencionara tais parentes nem por qual motivo eles a haviam banido de sua convivência além de não entender por que, se o nome da mãe era Foxworth, ela o havia mudado para Dollanganger e tanto ela quanto o falecido pai não haviam falado desses parentes.

Quando eles se mudam, Cathy começa a ver que as coisas são piores do que ela poderia supor: são recebidos pela avó materna, mulher severa e de aspecto terrível, alta, robusta, de nariz semelhante a um bico de águia e olhos ferozes, características de uma bruxa e essa lhes dá logo a entender que não serão tratados com amor e carinho porque são impuros, frutos do pecado da mãe e do pai. Além disso, como o avô não sabe da existência dos netos, eles terão que ficar num quarto isolado no andar mais alto da mansão. A mãe lhes diz que será por pouco tempo até que o pai a perdoe. Até lá, terão que fazer silêncio e se comportar direito para não sofrer punições. Porém, o tempo se arrasta e segredos sórdidos vão sendo descobertos ao mesmo tempo em que a avó, fanática religiosa implacável, submete-os a ameaças e a mãe vai se afastando deles.

Com o passar do tempo, Chris e Cathy se tornam pais dos gêmeos, precisam recorrer à criatividade para superar o tédio, medo e solidão e as crianças sofrem experiências horríveis que revoltam o leitor menos sensível: a avó os priva de alimento por alguns dias, a mãe não aparece por muito tempo, espancamentos e descoberta da sexualidade. No decorrer do tempo que se transforma em anos, Chris e Cathy precisam manter a esperança, amadurecendo e lutando para não sucumbir à perda da confiança na mãe e o gradual abandono que sofrem nas mãos da sádica avó.

Com todos esses elementos, O jardim dos esquecidos é uma bela e trágica história de como o amor se transforma numa força mais poderosa do que o medo, a desesperança e o ódio para vencer uma situação que parece ser um desafio intransponível.