Resenha : Preconceito lingüístico: o que é, Como se faz" ? Marcos Bagno

Começo esta apreciação crítica registrando meu imenso prazer em fazê-la por se tratar de uma obra tão clara no modo de apresentar paradigmas tão arcaicos e ortodoxos que permeias a língua portuguesa brasileira.

A tentativa de quebrar mitos tão preconceituosos como os tratados por Bagno, é um avanço extraordinário no campo da lingüística no Brasil. Alguns mitos citados por Bagno, os de maiores expressão pra mim são:

a) "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social" - Este é um mito muito covarde com o povo brasileiro, um povo sofrido, trabalhador, desprovido de oportunidades de frequentar regularmente as escolas de boa qualidade; um Brasil com grande desigualdade social, onde se trabalha muito e é tão mal remunerado.

b)" O brasileiro não sabe português. Só em Portugal se fala bem português" - é impossível concordar com este mito preconceituoso e absurdo. É impossível um nativo de um determinado país não saber falar a sua língua. Cada região tem sua qualidade linguística. O brasileiro sabe português sim. O nosso português é diferente do português falado em Portugal.

c) "Português é muito difícil" - As regras gramaticais que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. Pois somos obrigados a decorar regras e conceitos que não significam nada pra nós. Todo falante nativo sabe sua língua, ele conhece intuitivamente e emprega com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela, comunicando, entendendo e sendo entendido. Se tanta gente continua a repetir que português é muito diícil é porque não leva em conta o uso brasileiro do português.

Ao contrário que muitos pensam, Bagno, em momento nenhum propõe a extinção da gramática normativa, e sim, uma flexibilidade democrática das próprias regras gramaticais que em muitas vezes não se explica e cai nas famosas exceções e ele questiona a maneira de como a gramática tem sido trabalhada e tratada em nossas escolas.

A lingüística não é uma ciência do “vale-tudo” e sim uma investigadora de todos os fenômenos da língua, que particularmente no Brasil, é tão rico devido seus diversos dialetos regionais.

A crise, que muitos gramáticos tradicionalistas dizem estar passando a nossa língua é absolutamente uma auto defesa no sentido comercial e marketing, pois necessita, vender inúmeras tiragens de livros com regras ditatoriais do que “é certo ou errado”. Uma clara falta de amor pela própria língua materna.

Quanto a tal crise, concordo que a brecha está no processo ensino-aprendizagem adotado em nossas escolas em todos os níveis, que se encontra cambaleante e sucateada, com professores pessimamente remunerados, que trabalham a língua como uma coisa morta, pronta e acabada, sem levar consideração às pessoas vivas que a falam, não oferecendo aos alunos as mínimas condições de letramento necessários para o exercício da cidadania, sendo o brasileiro, a maior vítima deste processo penoso.

Ibelgman
Enviado por Ibelgman em 24/08/2007
Reeditado em 19/03/2010
Código do texto: T621423
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