WERTHER: A MARCA DA GENIALIDADE PRECOCE DE GOETHE

Um dos meus livros de cabeceira, "Os sofrimentos do jovem Werther", de Johann Wolfgang Von Goethe, também autor de "Fausto", um dos maiores clássicos da literatura alemã e mundial. O incrível é que este "Os sofrimentos...", um romance epistolar, em que o próprio protagonista conta a história através de cartas, livro de excepcional qualidade e estilo já bem definido, foi escrito quando Goethe contava apenas vinte e cinco anos! A exemplo do que ocorreu mais tarde com outro romance, se não me engano "Demian", do também alemão Hermann Hesse, dizem que "Os sofrimentos..." causou uma onda de suicídios entre os jovens alemães, por ocasião de sua publicação, na segunda metade do século XVIII. O autor concebe, e projeta, no personagem, um ser humano raro! Jovem, belo, culto, dotado de grande inteligência e aguçada sensibilidade, Werther é oriundo de família privilegiada. Entretanto, diferentemente de seus iguais, encanta-se, busca convivência e se solidariza com gente simples, de classes sociais inferiores, especialmente com crianças, a quem ajuda e com quem gosta de brincar e se divertir. Numa carta que envia a seu amigo e confidente, Wilhelm, destinatário, aliás, da maior parte das suas missivas, ele, que ama a vida e a natureza em todas as suas dimensões, reflete sobre o fato de que, quando damos um simples passeio, pisamos e esmagamos milhares de pequenos seres, os quais, em sua maioria, são invisíveis aos nossos olhos. O drama do nosso personagem começa quando ele conhece e se apaixona pela jovem e encantadora Charlotte (Lotte), que está para se casar com outro; e se aprofunda quando ele conhece o noivo, de quem se torna amigo e no qual reconhece um perfeito cavalheiro! Isso o impede de se declarar abertamente à amada. Mas, à medida que o casamento se aproxima, o desespero começa a tomar conta do nosso jovem.

Chega o dia em que Lotte se casa com Albert, amigo de Werther, que continua a frequentar a casa do casal. Ao notar o carinho, a atenção e o respeito com que Albert trata a esposa, Werther percebe que ela não lhe pertencerá (pelo menos não no plano terreno), e sua decisão é radical: não há mais lugar para ele neste mundo! Manda um criado à casa de Albert, para que este lhe empreste duas pistolas, pretextando uma viagem. Tais pistolas são entregues ao criado pela própria Lotte. A jovem amava o marido. E amava Werther. Ela intuía o que este faria com as pistolas. Ainda assim, as entrega ao criado de Werther. O desfecho é óbvio. Mas é melhor não entrar em detalhes. Minha intenção é que meu leitor vá ao próprio texto de Goethe e experimente as mesmas sensações que eu ao ler essa história. Se ainda não o fez. Que, como eu, possa solidarizar-se com o personagem, aprender e humanizar-se com seu altruísmo, sua delicadeza e sensibilidade.

Nota:

O título original é "Die Leiden des jungen Werther". E a última edição no Brasil, com título "Os sofrimentos do jovem Werther" e tradução de Leonardo César Lack, é da Abril Coleções, publicada em 2010.

José Luiz Barbosa de Oliveira
Enviado por José Luiz Barbosa de Oliveira em 26/01/2018
Reeditado em 28/01/2018
Código do texto: T6237303
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