Quatro livros condensados

QUATRO LIVROS CONDENSADOS
Miguel Carqueija

Resenha da antologia “Biblioteca de Seleções” com “Matriz de bravos”, de Anya Seton (The winthrop woman, c. 1958 da autora, Houghton Co., Boston, Massachusetts, EUA, tradução de Clarice Lispector; “Adeus, Mr. Chips”, de James Hilton (Goodbye, Mr. Chips), c. 1934 do autor, Little, Brown & Co., Inglaterra, tradução de Mário José U. Alves de Lima; “Matrimônio a sota-vento”, de Donald Morris (Warn bodies), c. 1957, Simon and Schuster, Nova Iorque, N.Y., EUA, tradução de Noelim Souza; e “Dois vultos na janela”, de Charlotte Armstrong (Mischief), c. 1950 da autora; Coward-Mc Cam, Inc., Nova Iorque, N.Y., EUA, tradução de Enéas Marzano.
Eu acho que essa publicação do “Reader’s digest” era melhor no tempo em que se chamava “Biblioteca de Seleções” (em geral quatro livros condensados) tendo mudado depois para “Seleções de livros” e passado a apresentar obras mais voltadas para a violência.
“Matriz de bravos” é um romance histórico sobre alguém que realmente existiu — Elizabeth Winthrop, que viveu no século XVII e participou da formação do estado norte-americano de Connecticut.
O livro, mesmo condensado, é fascinante, e repleto de referências à intolerância religiosa da época — por exemplo, os católicos eram chamados de “papistas”. Quanto à protagonista, a autora observa: “Acredito que a vida de Elizabeth foi significativa e digna de louvor.” E lamenta que muitos dos seus descendentes tenham “uma vaga impressão de que devem envergonhar-se de sua antepassada.” E isso porque ela, aliás natural da Inglaterra, estava acima de sua época.
“Adeus, Mr. Chips” é título muito conhecido e já filmado e seu autor, o inglês James Hilton, ficou mundialmente famoso.
É um romance de tema humano: a trajetória de um educador e seu relacionamento no educandário, com adultos e estudantes.
Curioso o detalhe de que Mr. Chips era viúvo. Enviuvara prematuramente, sem filhos, pois o único morrera com a mãe no parto, e com o tempo os estudantes esqueceram ou jamais souberam que ele fôra casado e portanto não era um solteirão. Classes estudantis sempre se renovam.
Trata-se de um romance muito singelo e intimista. Mr. Chipping, isto é, Chips, era um mestre tranquilo, sistemático, que amava os seus alunos e era por eles amado e que, mesmo aposentado, fazia o possível para acompanhar o Colégio Brooffield, pois morava em frente, na pensão da Sra. Wichett:
“Quando se avança em anos é agradável sentar-se ao pé do fogo com uma xícara de chá e ouvir o sino da escola anunciar o jantar, as chamadas, o apagar-luzes. Chips sempre dava corda ao relógio após o último sinal, punha o guarda-fogo em frente à lareira, desligava o gás e apanhava uma novela policial para ler na cama.”
A história é aconchegante, sem nada dessa mania de violência e sangue dos romances atuais. Aparece de fato a violência da I Guerra Mundial, sentida pelas distantes mortes dos ex-alunos que iam para o “front”.
Chips é pressionado a se aposentar, por ser considerado antiquado; um dia o chamam de volta.
O colégio, já se vê, era masculino. Para Chips era como um lar. Quanto à guerra, sabemos que enganou muita gente. Assim, quando perguntam a Chips se, em sua opinião, o conflito seria demorado, o velho professor deu uma “resposta otimista”. “Como centenas de pessoas, ele estava muito enganado; mas ao contrário dos outros, mais tarde não negou o fato.”
“Matrimônio a sotavento”, de Donald Morris, é também uma novela amena e fala em amor. O amor de uma jovem ruiva por um oficial da marinha norte-americana. O texto faz algumas revelações sobre a vida num navio militar em tempo de paz.
Para sentirem a leveza da história (que literariamente não chega a ser uma obra-prima) examinem este parágrafo:
“Imediatamente me levantei, banhei-me, fiz a barba e me vesti. Era mais ou menos sete horas. Na cozinha encontrei um bando de caras novas e muita comida, mas nada parecido com presunto e ovos. Alguém me empurrou na mão um sanduíche de frango e eu encontrei um pouco de leite largado na geladeira. Levei a refeição para os degraus da cozinha e sentei-me.”
A história final, “Dois vultos na janela”, vem assinada por uma “expert” da literatura policial norte-americana: Charlotte Armstrong.
Acompanhamos o drama de Bunny, uma criança de nove anos deixada pelos pais sob a guarda de uma babá psicopata recomendada pelo tio, e que ninguém conhecia. Peter e Ruth confiam e se ausentam. Segue-se o drama, que prende a atenção.

Rio de Janeiro, 27 a 31 de outubro de 2017.


(pesquisei que esse livro pode ser encontrado no Mercadolivre)