A Aventura da Reportagem de Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho

“A Aventura da reportagem” é itinerário de dois repórteres que se destacaram contando o “outro lado” das aventuras – ou seja, o que acontece por trás dos bastidores. A primeira parte do livro, de Dimenstein, revela AS ARMADILHAS DO PODER, em Brasília. Na Segunda, Kotscho retrata a peculiaridade de suas reportagens NO OLHO DA RUA.

Gilberto Dimenstein escancara a realidade (não informada pela imprensa) desonesta simulada por baixo dos panos, bem como os tantos “boatos” que contaminam a esfera administrativa em Brasília. Diz que a informação é uma arma nas mãos dos políticos, pois quem a tem se acha mais poderoso e perde menos. Eles dão mais informações em off (sem identificação) do que em on. Esse fato é o começo dos “boatos” que surgem e os jornalistas menos experientes publicam como verdadeiros – informações (em off) de sua inteira responsabilidade. Cita comentários de políticos a respeito de jornalistas com até classificações anti-éticas devido à conduta do jornalista, bem como de seu veículo. Daí, a importância do jornalismo independente.

Aconselha aos jornalistas, mesmo aos veteranos, a ficarem próximos às fontes para não perder as informações e nem tão próximo – o que significaria deixar de publicá-las. Não há receitas, o importante é aprender a evitar as ciladas do poder e dos boatos.

Retratando Brasília, ao longo de vários governos e comandos, aponta as armadilhas tecidas, as brigas criadas e vazadas, as “frituras” – ir queimando pouco a pouco – de alguém, os deslizes sofridos por jornalistas, a manipulação da informação, as confusões criadas para ludribriar as regras do jogo, bem como os “despites” de informações drásticas. A vida privada não deveria correr o jornalismo, mas a anti-ética de alguns políticos a utilizam para detonar um rival. O autor alerta para o “fontismo” apontando a cautela para distinguir versões de fatos reais.

Assim, o jornalismo independente, constituir-se-á em um incômodo permanente para a imprensa oficial governamental.

Já Ricardo Kotscho, narrando episódios do Golpe de 64 à Campanha Lula, mostra seu jeito desafiador de buscar o lado oculto deixado pelas reportagens. Ele dá voz aos sem voz, alegando ser característica adquirida por sua origem familiar. Enquanto todos corriam para o lado oficial, ele dirigia-se para o oposto; os anônimos. Conta, também, sua experiência jornalística “quarentana” em diversos jornais e como correspondente internacional.

Comenta, que mesmo de férias, estava de antenas ligadas e coletou informações “fresquinhas”, por sua característica peculiar. O movimento popular sempre esteve presente em suas reportagens, arrancando esforço e alegria; às vezes, tristeza por não trazer um final feliz para os “sem voz” da sociedade.

Os autores acreditam na utopia, e desvendando os nossos olhos, com suas aventuras, apontaram o grande campo que um jornalista tem para a transformação social, se não for conivente com o poder e suas armadilhas.

Acredito, como eles, que é preciso prestar, com as informações reais e não versões, um grande serviço a sociedade já cansada de ser enganada.

* Resenha realizada em 1999.