Se entrevista é a base da reportagem, a curiosidade é da entrevista

‘Entrevista e ética”, de Marcos Cripa, é uma coletânia com entrevistas que seus alunos realizaram. Perguntaram a personalidades no mundo jornalístico a que vem a ser uma entrevista. A partir de então, deram origem à publicação sobre entrevista, ética, radiojornalismo, telejornalismo e perguntadores, ou melhor apresentadores de programas.

Cada aluno entrevistou um jornalista. Foram entrevistados Armando Nogueira, Gilberto Nascimento, Alberto Dines, Sérgio Buarque de Gusmão, Juca Kfouri, Luís Nassif, Ricardo Kotscho, Boris Casoy, Heródoto Barbeiro, Maria Lydia e Miguel Dias. Já na apresentação Marcos Cripa deixa claro que para todos, o melhor entrevistador é aquele que sabe perguntar, tem curiosidade, interesse e coragem de emanar questões.

Com as respostas de cada entrevistado, é possível coletar uma série de regras e técnicas para o exercício dessa profissão ser mais objetivo e eficaz. Todos acham que o entrevistador tem que se preparar antes, ganhar a confiança e ficar atento para coletar as informações de que precisa, mesmo que o entrevistado tente desviá-las da entrevista.

Para Armando Nogueira, o repórter precisa ser humilde na forma e altivo sem ser arrogante no conteúdo. A entrevista impressa fica ao saber do entrevistador ou entrevistado. Já no rádio ou na televisão, é uma corrida contra o tempo. Muita tensão. Acredita que as redações fizeram bem em especializar os repórteres em alguma área. Gilberto Nascimento fala da perspicácia do entrevistador ao desvendar as manhãs de certos políticos.

Alberto Dines é categórico na afirmação de que entrevista não é arte e que os repórteres brasileiros sabem mais debater que perguntar. Fala da atenção que é capaz de buscar perguntas em cima das respostas emanadas pelo entrevistado. João Buarque de Gusmão acredita que o jornalismo brasileiro melhora. Porém, fala dos jornalistas espetaculares que são capazes de inventar histórias, usando armadilhas em suas entrevistas. Afirma que a sociedade deve cobrar da mídia por meios democráticos.

Para Juca Kfouri comenta que os ‘talk shows’ não têm nada a ver com programas de entrevistas jornalísticas. Aconselhoa o repórter a só desligar o gravador na hora que sai da casa do entrevistado, pois são nos últimos momentos que ele declara as informações mais importantes. Luís Nassif acredita que a fonte é sagrada. Mesmo ferrado, ele não a denuncia. Por isso, já foi processado 25 vezes. Faz distinção em ser contra ou a favor do governo versus seus atos.

Ricardo Kotscho prefere e aconselha nunca ir a uma entrevista com idéias pré-concebidas, ‘como muita gente nova que já leva a tese pronta’. Sempre tratou seus entrevistados sem distinção nenhuma. Boris Casoy diz que seu estilo é não ter estilos e, às vezes, prefere não pesquisar para se colocar no lugar do telespectador. Heródoto Barbeiro declara que falta humildade e cultura geral aos principais entrevistadores do Brasil. Pois, uma entrevista no rádio comporta apenas duas ou três perguntas.

A apresentadora de programa – mediadora – Maria Lydia diz que se coloca no lugar do telespectador. Também sua função, é representar uma corrente de opinião que no momento esteja ausente. Fala que as pessoas mais difícies são as radicais e emocionais. Vê que a entrevista no Brasil caminha para a imparcialidade. Ao falar de sua experiência no rádio, Miguel Dias fala das características do veículo e dos erros mais comuns. A arte para ele, está em buscar o ‘lead’ da informação. Acrescenta “o profissional tem de estudar muito para se dar bem no mercado.”

Ao meu ver, a ética é o ingrediente de toda reportagem, entrevista e vida jornalística. Sem ela é impossível fazer um bom trabalho, levando a sério a profissão e os leitores, radio-ouvintes e telespectadores. O compromisso é contínuo e exige estudo, coragem, humildade e força de vontade. Penso que essa obra é um excelente manual de entrevistas para que deseja, de fato, arriscar sua vida pela informação de transformação social.

Acredito que o grupo teve a feliz idéia de publicar as entrevistas pensando no bem que elas poderiam fazer ao mundo da informação. Todos os profissionais deveriam ler para um confronto com a própria prática, na busca de saídas para uma comunicação de qualidade no Brasil.

* Resenha realizada em 1999.