As torres de Tolkien

AS TORRES DE TOLKIEN
Miguel Carqueija

Resenha do romance “As duas torres”, de J.R.R. Tolkien, segundo volume da trilogia “O Senhor dos Anéis”. Editora Martins Fontes, São Paulo-SP, 2002. Tradução: Lenita Maria Rivoli Esteves e Almiro Pisitta. Título original: “The Lord of the Rings — part II — The two towers”. George Allen & Unwin Ltd. 1954, Inglaterra. Capa: Geoff Taylor.

Quem conhece Tolkien (1892-1973) sabe que este autor britânico revolucionou o romance de fantasia, aproximando-o dos clássicos da ficção científica, ao construir um mundo imaginário, embora semelhante à Terra, mas povoado de seres fabulosos e situado em outra dimensão.
Nesta outra Terra convivem diversas raças inteligentes, em geral mas nem sempre humanoides. Pode-se dizer que são três raças principais que na verdade são quatro: humanos, elfos, anões e hobbits. Estes últimos, ignorados por muitos porque não costumam sair do Condado (o seu país) são porém insubstituíveis por suas características especiais. Em alguns locais são vagamente conhecidos como os “Pequenos” e até fazem lembrar duendes.
Há também raças animais inteligentes — águias, lobos e até aranhas gigantes. Existem os orcs, humanoides horríveis e maus, e os “ents”, poderosos seres vegetais.
Depois da aventura narrada em “O Hobbit” começa a trilogia do Senhor dos Anéis com o romance “A Sociedade do Anel”. Esses dois livros eu já resenhei. Recordemos que Gandalf, o mago humano, confiou ao hobbit Frodo a missão de destruir o terrível “Um Anel”, um objeto enfeitiçado e maligno, perdido há muito pelo arquivilão Sauron, que da sua fortaleza em Mordor vigia as terras em redor com o olho giratório da torre.
Frodo deve levar o anel ao próprio território do inimigo e jogá-lo no vulcão para destruí-lo de vez. Todavia a jornada é extermamente perigosa e sacrificante e o grupo acaba se dispersando. O humano Boromir morreu, Gandalf perdeu-se do grupo caindo num abismo. Logo, em decorrência de vários contratempos, estavam separados Aragorn, Légolas e Grimli; Frodo e seu criado Samwise e os dois hobbits parentes de Frodo, Meriadoc e Peregrin.
A narrativa é densa, detalhista, progressiva e servida por riquíssima linguagem. A luta pelo poder perpassa a saga inteira. Há notáveis criações literárias entre os personagens, como o oportunista mago Saruman, que busca se aproveitar da situação em benefício próprio criando um reino maléfico independente do de Sauron, que é um vulto misterioso e que, citado inúmeras vezes, e sendo sem dúvida o “Grande Mal”, nunca aparece diretamente. Há o Gollun, uma repulsiva criatura anfíbia, que não se sabe ao certo o que é. Caviloso, falso, Gollun em certa época esteve na posse do anel e o quer de volta custe o que custar. Há Barbárvore, o chefe dos “ents”, que são meio árvores mas podem se locomover. E muito mais do que isso.
A lamentar que as personagens femininas estejam virtualmente ausentes, como se nada contassem. A aranha gigante, Laracna, é uma fêmea, mas isso não pesa muito.
Resta examinar o último volume da trilogia, “O retorno do Rei”, o que espero ainda fazer.

Rio de Janeiro, 5 de abril de 2017.