O orfanato peculiar

O ORFANATO PECULIAR
Miguel Carqueija

Resenha do romance “O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares”, de Ransom Riggs. Editora Leya, São Paulo-SP, 2015. Tradução: Edmundo Barreiros e Marcia Blasques. Copyright 2011 de Ransom Riggs. Título original: “Miss Peregrine’s home for peculiar children”, Quick Books, Filadélfia, Pensilvânia, EUA. Adaptação da capa original: Vivian Oliveira.

É um trabalho difícil, não há dúvida, montar todo um universo ficcional de fantasia que forme um todo coerente, complexo e de certa forma, auto-suficiente. Normalmente tais universos são excludentes em relação aos demais. O de Ransom Riggs, por exemplo, seria incompatível com o de J.K. Rowling (Harry Potter).
Este livro é muito bem escrito, narrado na primeira pessoa por Jacob Portman, garoto de 16 anos que mora com pai e mãe desajustados, na Flórida. Ele estima o avô Abraham, natural da Polônia e que fugiu da II Guerra e da perseguição aos judeus, mas não crê nas suas histórias de combates contra monstros. Até que algo acontece que o levará a acreditar.
Entrando um pouco no domínio da ficção científica (me fez lembrar “O mundo em chamas”, de H.K. Bulmer) o texto desvenda uma raça da sombra, os “peculiares”, que possuem habilidades diversas — a garota incendiária, a outra de força descomunal, a levitadora, o garoto invisível, o avô e o neto que podem enxergar monstros e assim por diante — afora as mestras como Peregrine, que podem se transformar em aves. Um pessoal que se esconde em fendas temporais mal explicadas, onde sempre se está no mesmo dia.
Realmente há detalhes na novela que me pareceram confusos e mal explicados, mesmo assim a narrativa fascina com seus mistérios e seu suspense, cenas bem montadas de ação e personagens “peculiares” — notadamente a audaciosa garota Emma Bloom. A Peregrine, porém, embora seja a diretora do orfanato onde os peculiares se ocultam da humanidade e dos degenerados, é muito antipática e autoritária. A falta de liberdade e de expectativa haviam levado Abraham, no passado, a sair da fenda temporal para não mais voltar, mesmo mantendo correspondência com Emma. Não tendo sabido a verdade pelo avô, Jacob terá de descobrir sozinho e aos trancos e barrancos.
O detalhe mais interessante talvez seja o romance entre Jacob e Emma, que se desenvolve após mal-entendidos.
O livro tem continuação.

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2018.