DO LIVRO EM BRANCO... De Soninha porto por Edvaldo Rosa

O novo livro de Soninha Porto “do livro em branco” já em sua capa traz indícios do que trata em seu miolo... – Fala de nós, homens e mulheres, e do que trazemos no fundo de nossas almas, aquele algo que nossos sentidos filtra quando o expomos, ou que fica bruto, não lapidado, quando retido em nós!
É um livro denso, que não deve ser lido ás pressas, com risco de que se perca o melhor da leitura, o (re) encontro conosco mesmo!
Sim, aos meus olhos deitados sobre suas páginas, “do livro branco” refletiu-me um bocado, e tanto que pareceram meus os poemas ali inscritos, parafraseando a autora, pareceu-me ter derramado sobre as folhas meu sangue, meu suor e minhas lágrimas, sobre os poemas em que a autora singelamente declara que derramou tinta!
A tinta que a autora fala, fez revelarem-se palavras, que sozinhas já trazem um cabedal de possibilidades, e que juntas, remontam á vários significados, que vão além do simples contexto lexical.
É uma “coisa” que contém outra; o livro que contém e retém a palavra, a palavra que contém um significado e o declara, e o conjunto delas que ora nos eleva ao que se deseja, ora nos lança no mais profundo abismo de nossas almas!
E quando os poemas desta autora mostra a cara, quebram o nosso mutismo, dá voz a nossa própria voz, e como um pássaro alça voo, como um perfume que uma flor exale evola, deixando perplexidade, encantamento em quem os observa...
Assim, em alguns poemas minha leitura encontrou problemas... Ora era um vocábulo que se fazia desnecessário, ora eram outros, como ecos, que se somavam aos já percorridos pelos meus olhos, sobre eles deitados... Sim, “do livro branco” tem versos que foram meus por alguns instantes! - E que serão meus enquanto forem lembrados... É isso não é papel da poesia?
Mas, para ir além ao apontamento de que neste livro levado a lume pela editora Somar, uma coisa contém outra, cumpre salientar que em muitas passagens existe palpável a presença da metalinguagem... O poema fala de si mesmo, a si mesmo “sente” e de si mesmo “pensa”! -Um labor incessante, bem humano por sinal!
Seja como for, palavras são símbolos, são marcas, são sinais, que como ponto de referência, indicam um por vir, saudosas muitas vezes de um devir, que a rigor nem existe mais...
Assim, estes poemas de Soninha Porto, neste “do livro branco” dão testemunho de um presente, papável e real, uma presença de sentimentos e de pensamentos que só o tempo poderá ratificar ou não... Poemas testemunhos reflexos reflexões poemas sentimentos medo amor expectativas; bem assim ao estilo da autora, sem pontuação, pausa, num fluir constante de inspiração/transpiração!
“Do livro branco” não destaco um ou outro poema, por sentir que assim estaria restringindo, classificando uma experiência que ao fim e ao cabo é sempre muito pessoal...
Mas, afinal “Como nasce um poema?”.
Quando confrontamos “A flor e o nada”?
Quando “Das palavras” sentimos a “Escassez”, notamos algum “Confinamento”?
Neste “do livro branco” de Soninha Porto encontram-se as respostas da autora a estes questionamentos... Mas, insisto, não leiam apressadamente este livro, não leiam “apenas para sentir o lance da poesia”, aqui está presente algo mais...
Permita-se sentir-se “Liberto”, de “Tempos de medo”, através da “Imaginação” que te leve pela leitura deste livro que lhe apresento, numa grande viagem... “ A viagem por dentro” de você mesmo!
Por tudo isso aqui exposto, acredito que este “ do livro em branco” de Soninha Porto, com o seu jeito tão feminino de ser, é também um livro seminal!

Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
25/05/2019