Resenha do 3° capítulo do livro “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz” de Marcos Bagno.

Marcos Bagno nasceu em 1961, na cidade de Cataguases, Minas Gerais, no dia 21 de agosto. É professor, linguista, doutor em filologia e escritor brasileiro. Atua mais especificamente na área de sociolinguística e literatura infanto-juvenil. Suas principais obras são Gramática de bolso do português brasileiro e Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. O último citado é um tema muito tratado pelo autor, sendo uma autoridade reconhecida no assunto.

Nesse capítulo, ele aborda a questão “O que é o erro?” quando o assunto é o uso da língua, e constata que um “erro de português” é, na verdade, apenas um desvio da ortografia oficial, a norma padrão. Bagno alega que a ortografia oficial é fruto de um gesto político, determinada por decreto e ligada a razões de várias ordens como geopolíticas, econômicas e ideológicas. Exemplifica ao mostrar a forma “certa” de se escrever no século XX e a de atualmente, mostra que o que mudou foi somente a ortografia.

O autor afirma que todo falante nativo da língua é plenamente competente nessa língua, e não comete erros agramaticais, visto que, como fluente na língua materna, o falante terá intuitivamente essa capacidade de discernimento. A língua materna não é um saber secundário, que necessita de prática e memorização, já que ela é adquirida desde a infância, como alega Bagno.

Ele afirma que existem sim “erros de português”, só que nenhum falante nativo da língua os realiza, pois este tem um conhecimento implícito natural altamente elaborado da língua, que o faz incapaz de cometer erros agramaticais, mesmo que seja um indivíduo iletrado. Este conhecimento não é adquirido por meio de instituições de educação, mas sim de uma maneira natural tão quanto nossa habilidade de andar. Bagno faz uma comparação ao dizer que mesmo que os indivíduos não tenham conhecimento sobre a anatomia do corpo humano, isso não os impede de andar, correr, pular e fazer várias atividades corporais. Isso também ocorre na língua materna.

Mas há uma confusão, no nível da língua escrita, entre português e ortografia oficial da língua portuguesa. No nível da língua falada, os termos que se confundem são português, gramática normativa e variedade padrão. O autor afirma que, em relação à língua escrita, seria pedagogicamente proveitoso substituir a noção de erro pela tentativa do acerto, visto que o “erro” se dá por analogia, exemplificado pelos termos “xícara” e “chícara”, sua analogia se dá pela equivalência som-letra e também por ter outras palavras com as iniciais ch. Já na língua falada, o rótulo de erro é aplicado quando o falante não utiliza a “língua culta” em seu discurso, embora na verdade seja a codificação de um padrão idealizado.

A língua falada tem seus “erros” pois muitos enunciados não se encaixam na gramática normativa. Entretanto, alguns enunciados têm uma sintaxe, uma semântica e uma pragmática que qualquer falante nativo aceita tranquilamente, e esses enunciados são os mais utilizados, o que prova a afirmação do autor.

Bagno então ressalta que, quando os gramáticos conservadores chamam os erros gramaticais de “erros comuns”, não se dão conta de que reconhecem que o que aquilo considerado “certo” é que deve apresentar algum problema ou disfunção, alguma incapacidade do uso que impede a maioria dos falantes a obedecerem àquela regra.

Podemos concordar com as alegações de Bagno a respeito da definição de “erro” na Língua Portuguesa, já que numa linguagem clara e objetiva, ele nos mostra o quanto estamos equivocados quanto à essa questão, e nos faz repensar quando, por exemplo, corrigimos alguém por estar falando ou escrevendo “errado” e como tentamos sempre impor a norma culta como se essa fosse a única definição de “certo”.

A língua materna se constrói de maneira natural dentro de nós, e a norma padrão nada mais é do que uma idealização, ou como seu próprio nome diz, um padrão a ser seguido, criado por forças políticas e ideológicas mas que não conseguem nos impedir de não seguirmos toda essa regra imposta, visto que milhões de brasileiros, sejam letrados ou iletrados, não usam a norma culta no cotidiano.

Isto foi somente um capítulo do livro “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz” e já nos mostra um grande aprendizado, Bagno teve como objetivo “abrir a mente do leitor” em relação a noção de “erros” que circula na sociedade a respeito da Língua Portuguesa.

Cynthia Menezes
Enviado por Cynthia Menezes em 06/06/2019
Reeditado em 10/10/2019
Código do texto: T6666879
Classificação de conteúdo: seguro