O Evangelho Segundo Jesus Cristo.

      Não posso dizer que tenha lido o livro todo em Recife pois quando lá cheguei ele já estava pelos quintos, talvez começando o segundo, mas terminei lá. Então para sempre este livro estará ligado em minha lembrança a esta cidade maravilhosa que conheci como um beija-flor, ora bicando aqui, ora ali, assim como a leitura que fiz, na sacada do apartamento de minha irmã, na cadeira do papai de meu cunhado, na espreguiçadeira da maior praia do mundo e até na cama, enquanto o sono não vinha e  ainda em alguns lugares implubicáveis. Só não li enquanto caminhava pelo calçadão embora haja quem faça isso lá, foi o que disse minha irmã, uma mulher caminha pela boa viagem lendo um livro, eu até queria mas nunca consegui. Lá se vai um bom tempo desde que comprei dois livros de Saramago e nunca li nenhum. Este ano, tendo reorganizado minha fila de livros a ler, os coloquei em ordem alfabética e como cheguei ao E, pus me a ler, sem muita pretensão o (O) Evangelho e me embasbaquei toda. Bem, agora estou aqui a pensar enquanto escrevo ou a escrever enquanto penso, não sei bem qual é a ordem certa, se é que existe uma. Saramago abandonou Portugal de forma declarada e imediata quando o responsável oficial pela cultura daquele país não aceitou a inscrição do livro para concorrer a um prêmio literário Europeu,  pressionado pela Igreja Católica portuguesa. Ele ficou bravo e foi embora para a Espanha, bravo com tal disparate, mas eu fico pensando aqui, se eu fosse esse tal de representante da Cultura ia ficar em um aperto danado. Afinal ele consegue mostrar a humanidade de todos os personagens que passam pelo Evangelho com uma realidade de doer. Eu que discretamente sempre achei que Jesus era tão filho de Deus quanto eu, embora bem mais melhorado, encontrei na perfeição um avatar. E todas as figuras que ali se apresentam, desde José e Maria são gente, gente de carne e osso, que pensa e sonha, que se engana e erra e tenta acertar. 

          A leitura no começo me pareceu que seria difícil, afinal Saramago cria uma forma diferente de escrever, parágrafos longos com pontuações criativas, passado e presente se misturando, o narrador dando suas opiniões, um frege só. Mas que frege maravilhoso, a gente se envolve de tal forma que  se sente orfã quando o livro acaba e querendo recomeçá-lo. Não vou fazer isto agora porque tenho  outros livro dele para ler, e vou comprar todos os outros e então vou reler este.
         E se você ainda não sabe, posso contar, que li em algum lugar e reproduzo: Saramago passava por uma banca de jornal quando viu uma manchete: O Evangelho segundo Jesus Cristo, viu assim como não se vê e pensa que se vê e por isso, ao se dar conta de que tinha visto voltou para conferir e lá não mais estava a manchete que não lhe saiu mais da cabeça até recontar esta história, que a história conta do ponto de vista dos evangelizadores mas que ele resolveu contar do ponto de vista do homem que ele é, tal qual o nazareno foi. E que qualquer um acredite da forma que quiser acreditar, que a verdade pode ser única mas cada um a vê como pode.Eu já pude de outras maneiras mas agora o que posso é assim também, e mal não faço a ninguém pensando como penso, que respeito outros pensares.