O PESO DO PÁSSARO MORTO

(ALERTA DE SPOILER - CONTINUE POR SUA CONTA E RISCO)

Há tempos não lia uma obra tão vívida em seu tema: a dor, o sofrimento.

Aline Bei consegue um feito incrível com este seu primeiro livro: criar uma obra que parece simples, leve e interessante; porém, quando entendemos suas entrelinhas, percebe-se o gosto amargo da tristeza a cada página.

A história é bastante simples: narra a vida de uma mulher, a partir dos 8 anos, por meio de suas desilusões e perdas. A amiga que se fingia de borboleta; o abuso que sofreu no final da adolescência e a criança concebida desse fato; o cão a qual se apega da maneira mais passional possível. Ela simplesmente não consegue amar o filho, por ser fruto de um estupro, a não ser tarde demais, quando ele, já noivo e cheio de planos, parte para o exterior para uma vida nova.

Dito desta forma, a obra parece muito simples, porém o que faz toda a diferença é o misto de prosa e poesia, criado pela autora. Lembra um pouco "Quando Paris Cintila", de Betty Milan, porém de maneira muito mais direta e concisa, mais narrativa.

A última cena da obra é bastante emblemática: quem era aquele homem, que se aproximava com o buquê de rosas, do túmulo desta mulher? Seria o pai de seu filho, arrependido depois de tantos anos? Ou o rapaz que se envolveu por ela, quando se mudou para a nova casa?

O único contra a ser destacado é o fato do livro em si ser bastante curto; seria interessante vê-lo um pouco mais longo, enfocando relacionamentos que são apenas pinçados aqui (como a questão dos pais da narradora, por exemplo).

No entanto, essa com certeza era a intenção de Aline (pinçar apenas aquilo que é relevante para a proposta do livro).

O fato é que o efeito alcançado é correto e muito bem sucedido: expor, da maneira sofisticada e acessível, a maneira como é difícil reagir à tristeza, à violência, a um mundo onde tudo pode mudar num piscar de olhos, pela ótica feminina.

Recomendado para: quem quer entender a psique de uma mulher torturada pela vida, seus refúgios e desilusões.

Nota: 9,5 de 10,0.