Memórias de um sargento de milícias

Memórias de um sargento de milícias

O romance “Memórias de um sargento de milícias” foge às características do Romantismo, período em que está inserido. É um clássico da ficção brasileira, recomendado por professores como obra indispensável de leitura em escolas e faculdades.

O que hoje podemos dizer é que se trata do primeiro “romance malandro” da literatura brasileira. Manuel Antônio de Almeida retratou uma camada social própria do Brasil no seu tempo. O tom popular de sua linguagem nos revela uma comicidade popularesca e folclórica. Essa linguagem representa uma camada da sociedade carioca de nível financeiro médio onde se foge de normas e regras da alta burguesia e onde se sobrevive sem trabalho servil. Com pequenas aventuras e a esperteza típica de pícaro, o personagem de Leonardo

(o filho) vive sem preocupações. Sem instituir juízo de bem e de mal, o narrador nos apresenta suas peripécias. Longe do herói idealizado, o leitor é apresentado a um anti-herói com virtudes e defeitos.

Nota-se que, em vez do exagerado sentimentalismo próprio do estilo romântico, há uma dose de humorismo e ausência de culpa e de conflito psicológico o que nos revela um romance sem remorsos.

Em “Memórias de um sargento de milícias” a neutralidade moral traz a idéia de um mundo em desordem em que parece existir uma espécie de balanceio entre o bem e o mal, compensadas a cada instante um pelo outro. Se existe alguma repressão moral, é só externa, fora das consciências. A figura do major Vidigal dá um tom de ordem para a esfera desordeira dessa sociedade. Mas esse personagem também desce à escala da esperteza e da malandragem ao se vender por favores eróticos. O narrador não se propõe a julgar os comportamentos.

É um romance que faz o retrato de uma sociedade tipicamente brasileira e que aceita vários grupos ideológicos e culturais. O que marca o romance não é a existência do antagonismo bem “versus” mal, mas sim, a relação entre eles.

Bibliografia

CÂNDIDO, Antônio. "O discurso e a cidade". SP: Duas cidades, 1973.