Resenha do livro Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro.

Pequeno Manual Antirracista foi publicado em 2019 pela editora Companhia das Letras e ganhou o prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências humanas.

Como a própria autora deixa claro em seu parágrafo introdutório, Pequeno Manual Antirracista é um livro que “foca em estratégias para combater o racismo contra pessoas negras, (…) se possível, ele possa contribuir também para o combate a outras formas de opressão.” e tem como objetivo, ainda segundo a autora, “apresentar alguns caminhos de reflexão — recuperando contribuições importantes de diversos autores e autoras sobre o tema — para quem quiser aprofundar sua percepção de discriminações estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação de nossa sociedade.

A obra de Djamila Ribeiro é composta por uma introdução seguida de 11 capítulos curtos que são os seguintes: Informe-se sobre o racismo, Enxergue a negritude, Reconheça os privilégios da branquitude, Perceba o racismo internalizado em você, Apoie políticas educacionais afirmativas, Transforme seu ambiente de trabalho, Leia autores negros, Questione a cultura que você consome, Conheça seus desejos e afetos, Combata a violência racial e o último capítulo, Sejamos todos antirracistas. A obra possui aproximadamente 70 páginas bem escritas e uma bibliografia riquíssima e extensa.

Logo no capítulo introdutório a autora faz nos refletir sobre como se deu a escravidão, como ela é contada e sobre que ponte de vista: “Quando criança fui ensinada que a população negra havia sido escrava e ponto, como se não tivesse existido uma vida anterior nas regiões de onde essas pessoas foram tiradas à força. Disseram-me que a população negra era passiva e que “aceitou” a escravidão sem resistência. Também me contaram que a princesa Isabel havia sido sua grande redentora. No entanto, essa era a história contada do ponto de vista dos vencedores, como diz Walter Benjamin.” Ainda na introdução a autora afirma que “falar sobre racismo no Brasil é, sobretudo, fazer um debate estrutural.” Pois segundo a autora o racismo faz parte da estrutura social brasileira, e portanto, não necessita ser proposital para se manifestar.

Em seu primeiro capítulo intitulado "Informe-se sobre o racismo" Djamila Ribeiro fala sobre a necessidade de percebermos os mitos que formam as características do sistema de opressão operado sobretudo no Brasil e destaca o mito da democracia racial como sendo o mais conhecido e danoso. Ainda segundo a autora admitir o racismo é também o melhor modo de combatê-lo.

No segundo capítulo, "Enxergue a negritude", a autora afirma que já na infância as pessoas negras são movidas a pensar sobre sua condição racial, mas o mesmo não acontece com as pessoas brancas. A partir daí, a população negra inventou estratégias ao longo de sua história para superar essa segregação. Os movimentos que valorizam o cabelo natural e as características típicas do povo negro são exemplos dessas estratégias.

Em "Reconheça os privilégios da branquitude" a autora deixa claro que as pessoas brancas devem questionar a ausência de pessoas negras em posições que se encontram normalmente pessoas brancas e refletir sobre como podemos mudar isso levando em conta que a população negra no Brasil é maior que a quantidade de brancos.

No quarto capítulo intitulado "Perceba o racismo internalizado em você" a autora diz que é impossível não ser racista tendo sido nascido em uma sociedade estruturalmente racista. Sendo assim, é algo que está em nós e devemos lutar contra estando sempre atentos para nossas atitudes, linguagens e dispostos a enxergar privilégios.

Em "Apoie políticas educacionais afirmativas" Djamila afirma que devido ao racismo estrutural as pessoas negras tem poucas condições de acesso a uma educação de qualidade, por isso é importante que apoiemos políticas educacionais de combate à desigualdade racial, como exemplo, a lei de cotas para universidades federais.

A autora, em "Transforme seu ambiente de trabalho", fala sobre o rompimento com as estratégicas do chamado “negro único”, ou seja, não basta ter uma pessoa negra para considerar determinada empresa antirracista. É preciso antes de tudo, segundo a autora, refletir sobre questões como: a proporção de pessoas negras e brancas em sua empresa e como fica essa proporção nos cargos mais altos, como a questão racial é tratada durante a contratação de pessoas etc.

Em "Leia autores negros" Djamila Ribeiro fala sobre os sinais de apagamento na criação de obras escritas por negros. Um desses sinais são, por exemplo, quando as bibliografias dos cursos não trazem nomes de negros. Esse apagamento da produção e dos saberes negros e anticoloniais contribui para a pobreza do debate público.

No capítulo "Questione a cultura que você consome" a autora trata do tema da apropriação cultural. Nas palavras da autora é essencial que se tenha uma preocupação real em não desrespeitar os símbolos de outras culturas, portanto deve-se nutrir empatia pelos diversos grupos existentes na sociedade, para isso é essencial estudar, escutar e informar-se.

Em "Conheça seus desejos e afetos" Djamila Ribeiro fala sobre o estereótipo das mulheres negras serem ultrassexualiazadas devido a um processo histórico, fazendo com que a imagem da mulher negra seja vista sob a ótica da exotização.

Em seu penúltimo capítulo, "Combata a violência racial", Djamila fala sobre a importância de se combater a violência racial conhecendo e apoiando o trabalho de movimentos e organizações que questionam o modelo punitivista em combater abusos por parte do Estado.

"Sejamos todos Antirracistas", último capítulo a autora fala sobre acordarmos para os privilégios de certos grupos sociais e nos convida a praticar pequenos exercícios de percepção, pois estas ações podem transformar situações de violência que antes não seriam questionados. Finaliza dizendo que as pessoas brancas devem se responsabilizar criticamente pelo sistema opressor que as privilegia historicamente e que pessoas negras podem se conscientizar dos processos históricos para não os reproduzir.

É possível dizer assim que esse pequeno grande manual antirracista é de leitura essencial a medida que nos auxilia na introdução de debates sobre o tema e nos faz pensar nas atitudes antirracistas à procura de uma postura mais justa e ética.

Anna Paula Rodrigues
Enviado por Anna Paula Rodrigues em 12/12/2020
Reeditado em 13/12/2020
Código do texto: T7133920
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