Big Loira e outras histórias de Nova York – Dorothy Parker.

 

 

                 Tenho esse livro há muito tempo. Fazendo uma limpeza em minhas estantes resolvi separar alguns para doar para alguma biblioteca.Estou precisando de arranjar espaços para os novos. Não é fácil fazer isso, porque logo começo a reler e o serviço não vai para frente.Fico empacada como uma mula na beira de um barranco. Eu não me lembrava absolutamente de nada que havia lido então foi como se estivesse lendo um livro novo.

                Ruy Castro selecionou e traduziu vinte contos de Dorothy Parker para compor essa edição.A Cia das Letras editou, em 1987.Ruy fez também uma apresentação que, na minha opinião, é melhor dos que os contos dessa baixinha arretada. A vida dela é bem mais interessante do que seus contos.

             Os contos reunidos apresentam uma temática comum: a amargura. Ao mesmo tempo, são engraçados. O mundo que ela retrata é o mundo que conhece. Habitado por mulheres imbecis e homens fracos. Ou seria por homens imbecis e mulheres fracas? Acho que a ordem dos fatores não vai alterar os resultados. Alguns são até muito bons. Mas são todos, de alguma forma, iguais. Então uma melancolia  vai  se apossando da gente e surge o desejo de que acabem logo.

             O primeiro é A Valsa e a ambigüidade dos sentimentos de uma mulher que, ou não sabe o que quer, ou não tem coragem de ser quem realmente  é. Arranjo em Preto e Branco, a hipocrisia do preconceito racial.  Você estava ótimo é hilariante e me faz lembrar uma velha piada. Aquela, do caseiro que liga para dar uma má notícia  para o patrão e começa dizendo: aqui está tudo bem, só o papagaio é que morreu. E a partir daí desfia uma série de desgraças que culminam na morte de mãe do fazendeiro, causada pelo incêndio na casa, que foi provocado pelo papagaio. No padrão de vida, as duas imbecis, Annabel e Midge, jogam um jogo que eu já joguei muitas vezes, mas sozinha. Mais ou menos igual. O que eu faria se ganhasse sozinha, o prêmio da Sena acumulada? Um telefonema, continua atual. As agruras de quem espera um telefonema, de alguém que prometeu, mas não telefona nunca. E assim por diante, as histórias vão desfiando um mundo de futilidades e traições. Mas há uma história, mais no final do livro, que se diferencia das outras. Não acho que seja um conto. É uma crônica. Soldados da República, uma memória da Guerra Civil Espanhola, tudo indicando um fato real vivido pela autora, na mesa de um bar em Valência, durante uma licença de  combatentes na guerra.É terno, comovente. Vale a pena ter o livro na estante para vez por outra ler esse texto.E é o que eu vou fazer. 28/10/07