PERFUME: A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO

OBRIGATÓRIO PARA QUEM É FÃ DE ESSÊNCIAS

(ALERTA DE SPOILER: CONTINUE POR SUA CONTA E RISCO)

Impressionante como esse foi o primeiro e (até o momento) único romance escrito e publicado por Patrick Süskind, alemão que se dedicou aos contos e roteiros. É uma pena, porque, a julgar pelo que se lê aqui, talvez tivéssemos mais algumas grandes obras primas a vir.

O Perfume é, acima de tudo ( a meu ver), um daqueles romances em que a forma de narrar é toda calculada para causar sentimentos ao leitor, e isso o autor faz com maestria: ele vai da repulsa ao desejo, do espiritual ao carnal, do angelical ao bestial, muitas vezes em uma única frase. Basicamente, o livro é uma história de formação, na qual acompanhamos Jean-Baptiste Grenouille, órfão de mãe já desde o nascimento. Com o passar do tempo, ele é encaminhado para diversos lares, penetrando na vida de diversas pessoas, muitas vezes sem deixar uma grande impressão; algumas vezes de forma cômica e até patética (como o perfumista Baldini, em Paris), outras, de forma trágica (no caso, o nobre Richis, ao final do livro). O que diferencia Grenouille é algo que se torna uma obsessão em sua vida: a ausência do seu cheiro. Ele se descobre capaz de reconhecer todos os aromas, os fedores, essências, com uma intensidade acima da capacidade humana, mas seu corpo não exala cheiro algum. Nada.

Grenouille se descobre um exímio perfumista, e torna-se obcecado por possuir um aroma perfeito, capaz de fazer com que as pessoas enlouqueçam por ele; sim, capaz de fazê-las o amarem, o venerarem. Ele passa anos a fio aprimorando seus métodos, descobrindo informações, analisando as pessoas, tecendo planos por meio de seu superpoder. Até que descobre que o principal ingrediente em sua busca é o próprio ser humano. A relação com o protagonista é ambígua: Jean-Baptiste é mostrado, em grande parte, como um vilão cruel e ardiloso, mas lendo, você percebe que ele também é um produto do seu meio. Ele nunca amou ninguém, não sentia nojo ou repulsa; não se preocupava em atingir seus objetivos, uma vez que sua busca pela sobrevivência era intensa e diária.

Süskind escolhe uma narrativa ora ágil, ora densa, mas sempre com muito sucesso no que se propõe: causar uma sensação muito forte por meio da sinestesia. Há tantos odores no livro, e tanto se comenta sobre a sensação que eles causam, que você será atingido em cheio; as descrições chegam a lhe dar um sentido de sublime, ao mesmo tempo que atingem a náusea. Talvez seja perturbador para pessoas mais sensíveis. Mas uma coisa é certa: Patrick consegue um livro que leva você exatamente aonde o autor quer que chegue, tanto que o final mantém essa ambiguidade entre o sagrado e profano, com um resultado tão imprevisível que não tive como não favoritá-lo.

Indicado para: amantes de perfumaria e aromas em geral, além dos que curtem um bom thriller dramático.

Nota: 10,0 de 10.

Dica - leia ouvindo isto: https://youtu.be/KC9SwuqteCo