O ANIMAL SOCIAL, resenha

O ANIMAL SOCIAL, resenha
Miguel Carqueija

Resenha do ensaio “O animal social”, de Elliot Anderson. Ibrasa, São Paulo-SP, 1979. Tradução: Noé Gertel. Biblioteca Sociologia e Patologia Social, volume 8. Título do original norte-americano: “The social animal”. Desenhos de abertura dos capítulos: Saul Steinberg. Edição original de 1972, por W.H. Freeman and Company.

Do que as pessoas são capazes de fazer, ou o que elas podem acreditar ou ser induzidas a acreditar, ou a agir ou a consentir. Esse livro é algo irritante porque o autor descreve o tempo todo “experiências” onde as pessoas são utilizadas como cobaias e com frequência são iludidas com mentiras para que se testem as suas reações. Ainda que se apresente a mentira como único meio para chegar a certas conclusões os resultados me parecem pífios e desinteressantes, irrelevantes para o progresso da humanidade.
Por exemplo, nas páginas 190-191 o autor descreve uma infame experiência feita com escoteiros (!) num acampamento. Ele tem coragem de dizer: “Os sujeitos eram normais, ajustados, rapazes de 12 anos de idade que foram reunidos ao acaso em dois grupos”. Ora, os “sujeitos” ou “rapazes” eram crianças! E segue: “Depois de desenvolver um sentimento de coesão em cada grupo, foi armado o palco para o conflito (...) os pesquisadores criaram situações deliberadas destinadas a provocar conflitos”. Honestamente, tais experiências são éticas?
Aqui e ali o livro apresenta alguns pensamentos válidos, como na página 160: “Com raras exceções, não ensinamos nossos filhos a amar a aprendizagem: nós os ensinamos a conquistar um diploma”.
Porém, o que há de aproveitável no livro se dilui na descrição (feita em geral com frieza, mesmo quando questiona a ética de certos processos) de experiências até com choques elétricos.
Um livro maçante e até preocupante, pois algumas das “experiências” descritas poderiam dar lugar a processos na justiça.

Rio de Janeiro, 18 de abril de 2021.