O Livro da Natureza, volume 1

O LIVRO DA NATUREZA, volume 1

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro do Dr. Fritz Kahn. Subtítulo: “A imagem do universo à luz da Ciência moderna, numa exposição acessível a todos”. Tomo I: Espaço e tempo/força e matéria/o firmamento/a Terra/a vida. Com 153 ilustrações, a maioria esboçadas pelo autor. Tradução de Catharina Baratz Canabrava. Edições Melhoramentos, São Paulo-SP, sem data, 3ª edição. Título original alemão: “Das buch der natur”.

 

Nos anos 50 e 60, criança e adolescente, eu era fã da Melhoramentos e pedia a minha mãe que me comprasse os livros dessa editora, inclusive os de divulgação científica, geralmente muito bons. Acompanhei dessa forma, no que pude, a coleção “O Homem e o Universo”e a que viria depois, com obras mais volumosas, “Ciência e Cultura”. A esta segunda pertence o monumental trabalho de Fritz Kahn — autor também de “O átomo”, na mesma série — em dois volumes.

Infelizmente só agora pude ler este título num volume encadernado em capa dura. Acho lamentáveis essas encadernações, pois trata-se de brochuras, portanto as capas foram arrancadas com a ilustração, a lista de volumes da série na contra-capa e as orelhas com informações. Isso é algo que não deveria ser feito.

O Dr. Fritz Kahn era um excelente desenhista científico e seus desenhos até do mundo atômico, com legendas explicativas, são exemplares. Neste primeiro volume (o segundo está na mesma encadernação) ele já abrange um impressionante caudal de assuntos, um trabalho de muito fôlego.

Como divulgador científico o Dr. Fritz Kahn tem poucos senões: talvez um exagero poético nas metáforas que constantemente faz uso.

Uma curiosidade, que mostra como a Ciência oficial pode errar lamentavelmente, está na página 175, ao falar dos aerólitos. Até parte do século 19 negava-se, inclusive com zombarias, que pedras pudessem cair do céu, e no entanto pedras caem do céu diariamente e em grande quantidade. Vejam o que o autor refere:

Quando em 1800 caiu uma saraiva de pedras em pleno dia, numa aldeia da Gasconha e se enviou um relatório do fato com 300 assinaturas para a Academia de Ciências de Paris, respondeu esta o seguinte: “A Academia lamenta verificar que nesta época tão esclarecida (!) ainda existam pessoas tão supersticiosas que acreditam na possibilidade de caírem pedras da abóbada celeste”. Quando em 1807 caiu uma pedra dessas em Connecticut e dois professores pediram permissão ao Governo para desenterrá-la, o Presidente Jefferson recusou, fazendo a seguinte observação: “É mais provável que dois professores ianques estejam mentindo do que cair uma pedra do céu”.

Pois é, depois falam da Igreja Católica, de onde aliás saíram grandes cientistas como Copérnico, Mendel e Lemaitre.

O livro é envolvente, fascinante em seus assuntos, escrito em linguagem atraente. Às vezes o autor deriva para tiradas filosóficas, como na página 290, onde compara a vida ao jogo de xadrez, observando que “com 6 tipos de figuras joga-se, no tabuleiro quadriculado, seguindo regras tão simples que uma criança as domina em 5 minutos, um jogo que permite milhões de combinações, desde o simples “tomar figuras” das crianças até as partidas mestres, onde se luta dias a fio por um peão”.

Há também conhecimentos geográficos pitorescos, como na página 274. “Os rios roubam as montanhas sem cessar, mas o auge da época em que isso acontece é no período das chuvas torrenciais. Carregada com o espólio, a água se colore com as terras roubadas e assim originam-se os nomes Rio Amarelo, Nilo Azul, Rio Vermelho. Quando os rios sobem, as montanhas caem.”

Esses exageros poéticos, claro, não invalidam a importância dessa obra, cujo segundo volume espero analisar em breve.

 

Rio de Janeiro, 3 de agosto de 2021.