A civilização em dois volumes

A CIVILIZAÇÃO EM DOIS VOLUMES

Miguel Carqueija

 

Resenha do tratado “História da Civilização Ocidental” (“Do homem das cavernas até a bomba atômica”), dois tomos, por Edward Mc Nall Burns. Editora Globo, Porto Alegre-RS, 2ª edição, 6ª impressão, 1967, revista e atualizada de acordo com a 4ª edição norte-americana. Tradução de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallandro. Mapas de Liam Dunne. Título original: “Western civilization, their history and their culture”, W.W. Norton & Co. Inc., Nova Iorque.

 

São mais de mil páginas contando os dois volumes, numa única numeração de páginas. Há muitas informações valiosas se bem que em boa parte discutíveis. O autor tem uma tendência esquerdista bem clara e utiliza por vezes adjetivação típica, rotuladora. Mas vale muito a pena ler, ainda que o estilo seja às vezes maçante.

Burns não se limita às questões políticas e bélicas, dá espaço para os movimentos literários, filosóficos e artísticos dos povos do Ocidente. Entretanto, nos capítulos finais, deixa de mencionar a nova arte do cinema. Esquece a música popular, quando poderia mencionar por exemplo Bing Crosby. Na literatura ignora autores como Edgar Allan Poe, Júlio Verne e Conan Doyle. Todavia, não se pode mesmo falar de tudo.

Ele também ignora a contribuição de Portugal nas grandes navegações, portanto o Brasil é praticamente ignorado.

A visão de Burns é mais para o Hemisfério Norte. Ele curiosamente vê como “pessimista” a doutrina da religião cristã por apontar para a vida após a morte do corpo, quando deveria ser o contrário, como se a Fé fosse fatalismo, que é o que se pode dizer do materialismo.

São interessantes os mapas que mostram a configuração política da Europa em diferentes épocas. O texto demora-se bastante nas transformações políticas e sociais em países como a Rússia, a Alemanha, a Inglaterra, a França, a Itália e os Estados Unidos. Alguns episódios importantes são tratados em poucas páginas ou em poucas linhas; a Igreja Católica, com a sucessão dos papas, é muito presente, e alguma coisa do Protestantismo. Alguns nomes historicamente muito importantes deixam de ser mencionados, como Nostradamus e Leif Ericson.

No primeiro capítulo o autor discorre sobre as civilizações primordiais, como a do Egito. Fala mesmo sobre a literatura egípcia milhares de anos antes de Cristo.

Assim, como obra de informação cultural, mesmo discordando de algumas opiniões do autor, vejo este volume duplo como de leitura útil para quem tenha disposição de ler mais de mil páginas escritas num estilo meio seco e frio, ainda que bem redigidas e traduzidas.

 

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2021.