O esplendor da verdade

O ESPLENDOR DA VERDADE

Miguel Carqueija

 

Resenha da Carta Encíclica “Veritatis splendor” (O esplendor da verdade), de João Paulo II. Edições Paulinas, São Paulo-SP, 5ª edição, 2000.

 

Esta notável e abrangente encíclica, cuja assinatura traz a data de 6 de agosto de 1993 (Festa da Transfiguração do Senhor), foi redigida por um dos maiores pontífices da História e canonizado pelo Papa Francisco. São João Paulo II — o Cardeal Karol Wojtyla, polonês — foi o primeiro papa não-italiano em quatro séculos, início de uma importante descentralização do papado.

Ele teve um dos pontificados mais longos e fecundos da Igreja Católica e legou documentos importantíssimos.

“O esplendor da verdade” fala, desde o título, daquilo que o Cristianismo é — e de fato a Verdade esplende, é luminosa. E são luminosas as palavras do papa, como as que dão início a esta obra de quase 200 páginas.

“O esplendor da verdade brilha em todas as obras do Criador, particularmente no homem criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn1,26): a verdade ilumina a inteligência e modela a liberdade do homem, que, deste modo, é levado a conhecer e a amar o Senhor. Por isso, reza o salmista: “Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face.” (Sl 4,7).

João Paulo II escreve com uma elevação de espírito que dá gosto ler. Solidamente fundamentado na sabedoria católica dos séculos — frequentemente citando S.Tomás de Aquino, S.Inácio de Antioquia, S.Ireneu, S.Justino, S.Vicente de Lerins e outros grandes escritores da Igreja, além de documentos papais e conciliares — o papa vai norteando os bons critérios de hermenêutica e com linguagem erudita porém clara: “Pela opção fundamental, o homem é capaz de orientar a sua vida e tender, com a ajuda da graça, para o seu fim, seguindo o apelo divino. Mas esta capacidade exercita-se, de fato, nas escolhas particulares de atos determinados, pelos quais o homem se conforma deliberadamente com a vontade, a soberania e a lei de Deus”. Ou trocando em miúdos, no processo de redenção o homem precisa da graça de Deus mas tem que dar a sua parte, a adesão voluntária.

Os diversos capítulos da encíclica falam nos ensinamentos diretos de Cristo, na posição da Igreja em relação a certas teologias morais modernas, e a necessidade de “não se desvirtuar a Cruz de Cristo”. E o papa fala no “santuário do homem”, com estas palavras: “A relação que existe entre a liberdade do homem e a lei de Deus tem a sua sede viva no “coração” da pessoa, ou seja, na sua consciência moral”. Mais adiante: “A observância da lei de Deus, em determinadas situações, pode ser difícil, até dificílima: nunca, porém, impossível.” (...) E citando o Concílio de Trento: “De fato, Deus não manda coisas impossíveis, mas ao ordená-las exorta-te a fazeres tudo o que podes, e a pedires o que não podes, ajudando-te para que possas; com efeito, “os mandamentos de Deus não são pesados” (cf 1Jo5,3) e “o seu jugo é suave e o seu fardo leve” (cf. Mt11,30)”.

Resumindo, um livro que é, por si só, um esplendor demonstrando que Deus é verdade e a verdade é luz; que as trevas, enfim, estão com a mentira.

 

Rio de Janeiro, 14 de abril de 2022.