Sobre a escrita - a arte em memórias, Stephen King

O livro em si é um convite a escrever. King conta que enfiou um prego na parede para colocar os bilhetes de recusa, e seguiu escrevendo desde os sete anos de idade (quando ganhou cerca de um dólar de sua mãe por histórias que ele escrevera); sendo recusado inúmeras vezes pelas editoras, precisando posteriormente usar um prego maior, tamanha quantidade de bilhetes de recusa. Ou seja, escrever é persistir e quanto mais escrever mais habilidoso será o escritor. Eis aqui um baita resumão da parte do livro que trata sobre a escrita, no ínício, (o currículo) S.K. fala sobre sua vida pessoal e sua formação em escritor. Em todo o livro, ele expressa gratidão e admiração por sua esposa Tabitha, que teve um papel fundamental para a criação de suas obras, sendo também sua leitora ideal (LI).

» Escrever é humano, editar é divino.

» Livros de memórias geram identificação no leitor como num abraço.

» Ele diz que o livro não é uma autobiografia mas um currículo vitae sobre como se forma um escritor, que na verdade, não podem ser formados, já são predestinados pelo talento de contar histórias no papel. Talento esse que pode ser aprimorado. Ambição, desejo, sorte e talento.

» O escritor não deve procurar pelas histórias, mas reconhecê-las quando aparecerem, vindas do vazio, do nada, se juntando sob o sol e cintilando na sua frente prontas para serem eternizadas no papel.

» Quando sua mãe o incentivou a escrever uma história dele invés de copiar dos quadrinhos mudando algumas frases, ele se viu frente a um prédio repleto de portas todas disponíveis para serem abertas. Um universo de possibilidades quase inesgotáveis. O “e se” se faz essencial para a boa escrita.

» Criar suspense é deixar a informação conclusiva por último invés de passá-la logo de cara. Dar dicas do que vai contar, o tipo de informação que provoca sentimentos.

» Comer porcarias televisivas não ajudam em nada na carreira de escritor.

» Cerque-se de arte, em especial a cinematográfica e a dramaturgia.

» Se você escreve, pinta, dança, esculpe ou canta, saiba que alguém vai tentar fazer com que você se sinta mal com isso, pode ter certeza. Levou muitos anos até que perdesse a vergonha do que escrevia.

» Aproveite todas as oportunidades de escrever.

"MATAR PELA PAZ É COMO FODER PELA CASTIDADE."

» Escrever bem pode ser algo ao mesmo tempo inebriante e planejado.

» Escrever tem tanto em comum com varrer o chão quanto com momentos místicos de revelação.

» A escrita deve ecoar por todo o coração e alma do leitor.

» Escreva com a porta fechada, reescreva com a porta aberta. Assim que você descobre um jeito de contar a história e ela vai pra rua, ela pertencerá então a quem quiser lê-la ou criticá-la.

» Escrever é um trabalho solitário.

» Ter alguém que acredita em você faz muita diferença.

» As principais ferramentas para escrever são: o vocabulário (de preferência o simples e seu, ou seja, se você precisar buscar palavras de mais de três sílabas no dicionário já deixou de ser autêntico); a gramática (não aquela do ensino médio onde só dão nomes aos bois, mas àquela que você sabe combinar, assim como um cinto compondo o look. Orações simples contendo substantivo e verbo podem sim ter algum peso poético por mais simples que pareçam.

“A gramática não é apenas chateação; é a estrutura em que você se apoia para construir os pensamentos e colocá-los no papel.” pag. 108

» Fuja da escrita passiva, pois ela é entediante. “Ele abriu a porta” é muito mais interessante do que “a porta foi aberta por ele”.

» Escrever é fazer telepatia com o leitor: “Numa mesa forrada com um pano vermelho, há uma gaiola do tamanho de um aquário pequeno, contendo um coelho com o número 8 desenhado nas costas.” Nessa frase, você pode imaginar os tons do vermelho, a cor do coelho, como será a gaiola, o número no lombo do bicho, o tipo e tamanho da mesa, onde está essa mesa e no porquê de tudo isso.

“Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verdor. As flores, se forem descritas com frases que as definam no ar da imaginação, terão cores de uma permanência que a vida celular não permite.” (Pessoa, pag. 39, livro do desassossego)

» Escrita é pensamento refinado. Escrever é seduzir.

» Ao escrever um texto, é melhor não pensar demais sobre o início e fim dos parágrafos; o truque é deixar a natureza seguir seu curso.

» Frases perfeitas, tecnicamente falando, podem dar espaço a frases expositivas sem conjunções, soltas de um fôlego só. Funcionam maravilhosamente bem para dar agilidade à narração, criar imagens claras, atmosfera de tensão, bem como variar a linha da prosa.

» O objetivo da ficção é fazer o leitor se sentir à vontade e depois contar uma história. Fazer com que ele esqueça, sempre que possível, que está lendo uma história.

» Pode deixar a história ganhar corpo, naquele lugar que não é consciente, mas também não é totalmente inconsciente.

» A percepção de um personagem pelo escritor pode ser tão equivocada quanto a do leitor.

» Parar uma história só porque ela é emocional ou criativamente custosa é uma péssima ideia.

»As vezes é preciso perseverar, mesmo quando não se tem vontade, e às vezes você está fazendo um bom trabalho mesmo quando parece que está escavando merda.

» Construa o texto com o máximo de suas habilidades.

» Escrita é construção, coloque um tijolo todo dia.

» Use o vocabulário que você tem.

» Para escrever muito é preciso ler muito.

» Para criar seu próprio estilo é preciso ler todo tipo de coisa.

» Se escrever for pra você um ensaio, então pode parar. Escrever não é um trabalho, é tão natural quanto cagar. Você sente que precisa fazê-lo.

» Escreva sem tentar enfeitar o vocabulário. Não escreva “gratificação” quando seu verdadeiro vocabulário pede que escreva “gorjeta”.

» A palavra é apenas uma representação do sentido.

» A musa vive no porão, e não vai espalhar pó de criatividade sobre seu computador, você precisa descer até os confins do seu consciente e inconsciente, mobiliar o espaço, mais cedo ou mais tarde ela vai aparecer.

» Ler muito e escrever muito. Não existem atalhos. Os livros ruins ensinam tão mais que os livros bons. Aprendemos mais sobre o que não fazer ao ler uma prosa ruim.

» Escolha um local para escrever, que nele você possa fechar a porta e se desligar da realidade e entrar no seu mundo. Como com o guarda-roupas que dava para Nárnia. Arrume uma mesa, uma xícara de chá e música alta. Deixe longe o telefone ou qualquer coisa que possa te distrair. Ao fechar a porta você se compromete a escrever por duas horas ou pelo menos mil palavras. Só se levante quando tiver cumprido.

» Escreva sobre o que você sabe. Você deve enriquecer a história com seu conhecimento, com sua bagagem de vida; não tente discorrer sobre o que você sabe.

» Histórias se dividem em três partes: narração, que leva a história do ponto A ao ponto B e por fim até o ponto Z; descrição, criando uma realidade sensorial para o leitor; e diálogo, que dá vida aos personagens através do discurso.

» Não se preocupe com o enredo, toda história sempre leva a algum lugar, a algum desfecho (ou não, eis o mistério da continuidade). Construção de trama e espontaneidade da criação são lados opostos. A história advinda do enredo está propensa a ser artificial e dura.

» A situação vem primeiro. Os personagens — sempre rasos e sem características, no início — vem depois. Quando tiver isso, aí então pode começar a narrar.

» Você deve ver e ouvir melhor para melhorar sua habilidade de descrição, diálogo e honestidade.

» Não exagere nos advérbios (Aí, aqui, acolá, cá, lá, ali, adiante, abaixo, embaixo, acima, adentro, dentro, afora, fora, atrás, detrás, além, aquém, defronte, antes, aonde, longe, perto). Isso cansa.

» As vezes é preciso perseverar na escrita, faltam palavras, falta conteúdo, no entanto, chega um ponto em que o personagem se desenvolve sozinho, ele ganha vida própria.

» Use recursos para incrementar a história: onomatopéias (Tic-tac: som do relógio, Toc-toc: som de bater na porta, Sniff sniff: som de pessoa triste, chorando, Buááá: ruído de choro, Atchim: barulho de espirro, Uhuuu: grito de felicidade ou adrenalina). Polissíndeto (“Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.” (Rubem Braga). Fluxo de consciência (raciocínio lógico entremeado com impressões pessoais momentâneas e exibindo os processos de associação de ideias). Diálogo interior, mudanças de tempo verbal, panorama, tema, ritmo.

» Resumir e encapsular torna o simbolismo interessante, útil e fascinante. Simbolismo é como o fóssil a ser desenterrado na história, é a essência; a forma como fala do livro, do que se trata, sobre o que ele é.

» Sobre o que estou escrevendo?

» Por que estou investindo tempo nisso?

» O que me levou a trabalhar com tanto afinco nisso? O que me leva a continuar?

» O livro se abastece de interesses profundos: por que é tão difícil fechar a caixa de Pandora da tecnologia (A dança da morte, Os estranhos, A incendiária); por que, se existe Deus, tantas coisas horríveis acontecem (A dança da morte, Desespero, À espera de um milagre); a linha tênue entre realidade e fantasia (A metade negra, A torre negra, a escolha dos três); a terrível atração que a violência por vezes exerce sobre pessoas essencialmente boas (O iluminado, a metade negra). Use sua experiência e pensamentos para construir seu trabalho, deixar sua impressão no mundo literário.

» Começa com a história e chega no tema, não o contrário.

» Após concluir a primeira versão, deixe-a guardada na gaveta por pelo menos seis semanas. Releia numa sentada só.

» Tenha um pano de fundo, eventos passados que explicam melhor o comportamentos dos personagens.

» Em alguns dias, a escrita é caminho longo e sombrio; em outros, vem um sentimento de ter colocado as palavra certas no papel.

"Escrever me faz feliz porque eu nasci pra isso. A escrita não é para fazer dinheiro, ficar famoso, transar ou fazer amigos. No fim das contas, a escrita é para enriquecer a vida daqueles que leem seu trabalho, e também para enriquecer a sua vida. A escrita serve para despertar, melhorar e superar. " - King

» Você pode, você deve e, se tomar coragem para começar, você vai. Escrever é mágico, é a água da vida, como qualquer outra arte criativa. A água é de graça. Então beba. BEBA ATÉ FICAR SACIADO.

Quase tudo que está escrito aqui foi extraído do livro.