A biografia de Dom Orione

 

A BIOGRAFIA DE DOM ORIONE

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Dom Orione: o homem dos impossíveis”, pelo Padre Renato Scano. Ilustrações de Orlando J. Dias. Propriedade literária: Pequena Obra da Divina Providência, São Paulo-SP, sem data. Apresentação: Padre Giovanni Valdastico Pattarello.

 

Esta biografia, que saiu em brochura modesta que nem datada foi, e que não teve o selo de uma editora, é do tipo popular, pelo tamanho e pela linguagem. O Padre Renato Scano não se preocupou em colocar muitos detalhes históricos e cronológicos — aliás ele não se preocupou sequer em ter o nome na capa — e o livro é um modesto opúsculo, quase de bolso, que não chega a cem páginas de texto (não contando páginas em branco, de índice etc).

Dom Orione era italiano e, como Dom Bosco, desde cedo preocupou-se com a juventude nas ruas, a miséria e a pobreza; e algumas histórias contadas no volume parecem até anedotas. Por exemplo, convidado a participar de um banquete pelo Arcebispo de Reggio Calabria, ele apareceu com roupas novas e chiques de sacerdote: “bem barbeado, chapéu novo, sapatos com friso de “prata” e um belo manto “alla siciliana”. Certo Monsenhor Albera, que conhecia o despojamento de Orione, fez sentir a sua estranheza. E Dom Orione explicou que pedira emprestado a quatro pessoas diferentes: “Se eu tivesse vindo com os meus sapatos, com a minha batina, e ainda com o meu chapéu, com certeza eu seria expulso do banquete como aquele servo do Evangelho que não tinha a veste nupcial”.

O livro vai contando episódios diversos da vida do religioso, sem grande coesão entre os mesmos. O autor se refere ao ambiente de anticlericalismo, de perseguição à Igreja, e como Dom Orione agiu nesta circunstância. “Em Tortona, nem sequer podia um sacerdote andar pelas ruas, porque logo se tornava o alvo de insultos e pedradas. O subúrbio de San Bernardino era o foco dos anti-clericais”.

Caminhando por lá, Dom Orione chegou a levar uma pedrada. Aí um dos anti-clericais, caindo em si, perguntou ao padre se ele havia se machucado. E Orione respondeu:

“Imaginem! Também eu sou piemontês, tenho também a cabeça dura! E a novena, a que horas vai ser hoje?”

E por incrível que pareça ele conseguiu realizar a novena e posteriormente foi possível até construir um templo dedicado a Nossa Senhora.

A biografia conta sobre a precocidade de Orione, que já em seminarista fundou um colégio. O autor não explica como, sendo seminarista, conseguiu essa façanha, pois, como eu disse, o livro é popular, não se aprofundando muito como estudo histórico. Entretanto é um livro valioso, trazendo a vida e a obra de um homem notável do século 19.

 

Rio de Janeiro, 21 e 22 de novembro de 2022.