As intermitências da Morte – José Saramago



O livro de José Saramago, pela Editora Companhia das Letras de 2005, não é bom. Não é mesmo! Ele... É... Excelente! ! Gosto de ler este autor, pois ele sabe conquistar o mesmo através de escritos cuidadosos, humorísticos, filosóficos...Políticos...Sociais...Etc, etc...Ganhei o livro do meu esposo em 2006. Foi um presente maravilhoso porque ela sabe que admiro este escritor.

No início do livro já comecei a dar boas risadas, pois o modo como ele descreve as ações, as situações os envolvimentos pessoais, os relacionamentos, as tramas, os conflitos... É fantástico.

As intermitências – a interrupção de um curso, de um caminho - no caso... da Morte - é bem parecida com uma fábula; é uma ficcção bem humorada, relaxante, onde ele dá autonomia à Morte, condições físicas e psicológicas para tanto, mas de um modo bem sutil e humurístico.

A Morte - queria se vingar de tantas reclamações, se sentia magoada, e queria mostrar sua importância aos homens e daí começa toda da trama que José Saramago sabe bem arquitetar. A Morte resolveu fazer greve, aliás, ela também tinha direitos e surgiu no mundo ao mesmo tempo em que o homem; ela queria mostrar que fazia falta e para isso acontecer ninguém podia morrer. Não no mundo todo, não! Só numa localidade pequena onde a Morte se sentia mais rejeitada e discriminada.

Nessa localidade ninguém morria de morte natural ou de morte provocada. Mesmo que imploravam ela não aparecia. E aí o caos se instalou! Os políticos queriam esconder o problema e uma grande armação para esconder o fato foi levada a efeito, porque alguém deveria e precisaria morrer nesse ínterim e o problema ficaria restrito a uns poucos.

Os dias passam e a situação não muda. Os doentes graves vão lotando os hospitais, os velhos, coitados...Já cansados, sofrendo e...Não morriam! Crianças numa eterna agonia. Já, a igreja começou a se manifestar: não tem extrema-unção, mais? E missa de corpo presente? As funerárias a contabilizar os prejuízos: na havia venda de caixões e todo aquele ritual de velório.
As floriculturas, coitadas, estavam falindo, não vendiam mais flores, coroas...

O povo começou a reclamar a procurar juízes, políticos que queriam manter tudo às ocultas, sem escândalos, para resolver o problema, e descobrem que em outro lugar a morte continua seu trabalho social. Continua levando os seres para o outro mundo.

Surge a idéia entre os políticos de escondidos, levar os enfermos graves, já “com a vela na mão” para morrer em outro lugar, outro país vizinho. Faz uma alusão à eutanásia? Um velho e seu neto, doentes levados e são enterrados para acabar de morrer, no território vizinho, na intenção de acabar com seu sofrimento.

E as peripécias de Saramago são excelentes, envolvem os políticos as famílias. O drama consciencial de algumas famílias, de alguns políticos...

A morte resolve acabar com a greve, mas a sociedade não acaba com as injustiças que comete. Risadas à parte, humor à parte, o que Saramago denuncia é um problema social muito grave; o descaso com o ser humano: o que fazer com os velhos que só causam problemas de saúde, de alimentação, exige cuidados e preocupações? O que fazer com a criança?

A família se vê desnorteada quando tem que cuidar de um velho ou de uma criança, principalmente se ele for portador de alguma carência física ou psíquica. O estado tem muitos gastos para dar assistência à população carente às adolescentes grávidas, Gravidez indesejada...

A corrupção tomando conta da situação – para não serem denunciados, os transportadores de doentes para a fronteira deviam pagar propina para os guardas, que não eram poucos.

Os problemas sociais advindos, ou, aumentados devido à falta da morte são inúmeros, inclusive as igrejas, todas, reclamavam que isso não podia acontecer. Como iriam explicar a ressurreição, agora? E as oferendas durantes a missa, os dízimos? Como cobrar se ninguém ia a missa, ou aos cultos? Um problema!

José Saramago transforma a morte numa mulher, com a intenção de mostrar que ela é importante também na sociedade e que é muito discriminada. E o toque de mestre é que dá a essa morte - mulher é a altivez, força e determinação – e só duas coisas conseguem fazê-la mudar de idéia: música e amor. E o romance termina de forma diferente. Surpresa...

Gostei muito de ler este livro. José Saramago não é indiscreto em suas abordagens; é elegante, refinado no texto. Recomendo a leitura.