EU DIANTE DOS LIVROS E DO MUNDO QUE QUER ME OBRIGAR A LER: OBEDEÇO AO MUNDO OU SIGO MEU CAMINHO?

Amigo leitor, amiga leitora, acabo de ler um livro de Adolfo Bioy, um escritor argentino, nascido no início do século passado e que morreu antes no início deste, chamado "A invenção de Morel", da editora Biblioteca Azul, um livrinho curto, mas que segundo a crítica revolucionou o mundo literário nos apresentando à literatura fantásticas, se eu não entendi errado. Na Wikipédia diz que é um romance metafísico e que influenciou a série Lost.

 

Que o livro é interessante, isso eu senti. Li rapidinho. Fiz uma leitura como quem está em um sanitário público sem portas à beira da estrada: rápida e às pressas. Mas, fiz assim de forma proposital, para ver o que eu apreendia do texto e da mensagem. Farei outra leitura agora mais pausada, leve o tempo que precisar.

 

Olho para minha cama e deitado comigo estão Dom Casmurro, o famigerado e corruptor de mentes, Olavo de Carvalho em O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota; o Cortiço e A Poética de Aristóteles. Bem, alguém pode dizer: Excelentes livros, exceto o do famigerado, mas o que faz estes livros serem Grande Livros? Para tentar entender esse pergunta, ou melhor, essa questão, pois é assim que o escritor Fábio Durão prefere chamar um questionamento, pois a pergunta concebe uma resposta e pronto, já a questão faz os indivíduos pensarem e pensarem e quando acham que encontraram uma resposta, se pegam pensando novamente.

 

Como já citei, Fabio Durão é o escritor do livro "O que é crítica literária?" da editora Parábola, e pegando uma carona na definição acima apresentada, estamos diante não apenas de uma pergunta, mas de um questionamento. Pois bem, lendo o primeiro capítulo deste livro já me deparo com a resposta à pergunta, ou questionamento (a repetição é a mãe da fixação), que eu trazia comigo e que repito-a aqui: O que faz estes livros serem grande livros?

 

Antes de apresentar a resposta ou o subentendimento que tive ao ler o texto de Durão eu ouso falar que os livros citados e os milhares de outros considerados clássicos assim os são porque contam uma história que poderia ser nossa ou que a conhecemos ou que é nossa ou que gostaríamos ou não de ter vivido. Ou, nos ensinam algo que julgamos ser interessantes e assim, outras gerações também fizeram e outras mil gerações passadas. Para mim, um clássico se define assim. Agora, vamos ver o que fala Fábio Durão, que tem mais competência do que este que vos escreve. Para isto, vou transcrever aqui parte do seu texto:

 

"Por exemplo: será difícil para um crítico negar pura e simplesmente a genialidade de Shakespeare. Sua grandiosidade está atestada em milhares de interpretações de suas peças e de sua lírica, que se estendem por séculos e fazem parte da herança histórica e cultural do ocidente."

 

Aqui, ele fala mais ou menos o que eu havia dito no parágrafo anterior. É difícil negar a genialidade de Machado! De Aluízio de Azevedo e de Aristóteles, por exemplo. São pilares; os dois primeiros da cultura nacional, há que diga ( eu não discordo) que Machado seja referência mundial, e o último, de uma grandiosidade imensurável. São autores que possuem inúmeras edições de seus textos. Viraram peças, novelas, minisséries, adaptações e inspirações para outros escritores.

 

Agora, vem a segunda parte do argumento de Durão que diz mais ou menos assim (depois eu transcrevo o trecho do livro dele): George, será que você não acha que Machado de Assis ou Aluízio de Azevedo ou Aristóteles sejam excelentes referências e escritores fora da curva justamente porque te disseram que eles são fora da curva? Tipo um telefone sem fio, onde a mensagem vai correndo e crescendo mais do que devia? Foi isso o que eu pensei quando terminei de ler Bioy. O livro é bom, a história é cativante. Tem mistério e um desfecho que nos faz cair os olhos da cara, mas, eu li uma crítica sobre ele antes de ir ler o livro, algo que não costumo fazer antes de ler algo novo. Tenho o hábito de pegar o livro e lê-lo sem procurar saber nada dele ou do seu autor, quando possível. Já sabendo que um conhecimento prévio da obra ou do autor poderá enviesar a minha leitura.

 

O famigerado Olavo de Carvalho citou o escritor argentino em um de seus artigos e o elogiou porque ele, o Bioy, buscava o conhecimento e o aperfeiçoamento da sua escrita lendo os mais diversos gêneros das mais diferentes culturas. Antes de escrever, ou concomitantemente, ele crescia como leitor.

 

Até que ponto A OPINIÃO, ou a crítica, de alguém sobre determinada obra pode nos influenciar a aceitar tal obra como um clássico, ia colocar aqui a palavra bestseler, mas esta foi tão deturpada que fico com a palavra clássico mesmo. Além do mais, nem todo bestseler é um clássico e nem todo clásisco vira bestseler. Então, até que ponto somos influenciado? Será que os nossos conceitos são formados como uma peça de marketing: "Havaianas, todo mundo usa." Ahhh, se todo mundo usa deve ser descolado. Ahhh, se todo mundo está lendo deve ser um "clássico". Vou criar aqui um sloga qualquer "Leia Crepúsculo, ele vai mudar a sua vida", e nós vamos à internet (porque se está na internet é verdade!) e vemos umas mensagens dizendo: "Eu li Crepúsculo e ele mudou a minha vida", "É o melhor livro que já li desde que nasci", ou "A revista fulana de tal recomenda o livro Crepúsculos para jovens descolados." E damos uma olha na lista de mais vendidos e lá está ele: "Há 15 semanas como o mais vendido no Brasil" E lá vamos nós nos banhar em sangue de lobos e vampiros, (eu já li a saga toda e assisti aos filmes no cinema, meio que obrigado). Ai levanto a questão: será que o que temos como clássico (ou boa leitura) são bons mesmo ou apenas caímos no conto de um marqueteiro de quinta?

 

Agora, copio aqui o trecho de Durão que vai dizer em outras palavras, mais rebuscadas, o que acabo de escrever:

 

"Contudo, é possível levantar a questão crítica de se a apropriação de Shakespear pela indústria cultural- sua transformação em mercadoria, em patrimônio cultural (uma expressão de muito mau gosto) não interferiria na possibilidade de recepção de sua obra?" Eu não falei que Durão ia falar de forma mais rebuscada o que eu disse com tamanha dificuldade. E a que conclusão chego? Não tem conclusão, porque a provocação que fiz acima não foi uma pergunta, mas um questionamento e como tal, não tem um fim próximo, são como duas linhas que buscam encontrar no horizonte, quando mais nos aproximamos mais o encontro se distancia de nós. o jeito é sair lendo e construindo o nosso próprio gosto literário seja com Aristóteles ou com Crepúsculo ou gibis ou outros estilos que estão ai ansiando por leitores.

 

 

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George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 27/01/2023
Reeditado em 01/04/2023
Código do texto: T7704941
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