Uma história de Ciência

UMA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “História da Ciência”, de William C. Dampier. Editora Ibrasa, São Paulo-SP, 2ª edição, 1986; Biblioteca da Ciência, 32. Tradução, notas e complemento bibliográfico: José Reis. Título original inglês: “A shorter History of Science”, “copyright” 1944 Cambridge University Press.

 

Este livro é o que diz o título. Conta realmente a história da Ciência, sua evolução através dos séculos. O autor, Sir William Cecil Dampier (1867-1952), nasceu em Londres e é considerado um importante cientista agrícola.

Começando pelos primórdios, Dampier avança pelas antigas civilizações, por Grécia e Roma, pela Idade Média, chega à Idade Moderna, ao século 19 e finalmente aos tempos mais recentes. Naturalmente demora-se em alguns nomes que mais influenciaram o avanço científico. No entanto é muito estranho que ele se demore em Nicolau Copérnico, pai da Astronomia moderna, sem dizer que ele era padre da Igreja Católica, para logo em seguida mencionar a perseguição sofrida por Galileu, que, armado com a luneta, defendeu a teoria copernicana do movimento da Terra.

Dampier refere-se também a filósofos como Aristóteles e se demora um pouco em Leonardo Da Vinci, que é muito citado como gênio, pintor, inventor eclético, mas não tanto como cientista; mas penso ser justa a sua inclusão.

O livro é interessantíssimo mas, a meu ver, se ressente de uma certa prevenção do autor em relação à religião cristã. Basta ver que o nome de Cristo aparece abreviado em C., coisa que ninguém faz, a não ser nas siglas A.D e D.C (antes e depois de Cristo).

O mais espantoso é quando o autor se sai com essa: “Hipácio, o último matemático de Alexandria, foi assassinado em 415, com revoltante crueldade, por uma multidão cristã, instigada, ao que se acredita, pelo Patriarca Cirilo”.

A não ser que se trate de um erro crasso do tradutor o deslize do autor é inacreditável, pois trata-se de uma filósofa, Hipatya ou Hipácia, uma mulher, não um homem. Quanto ao seu linchamento, um crime bárbaro, intolerável; mas o Bispo Cirilo, aliás São Cirilo, um dos chamados Padres da Igreja (ou seja, como são chamados os escritores católicos dos primeiros séculos, que deram forma à doutrina), com certeza é vítima de calúnia histórica. Vejam que Dampier, ao escrever “ao que se acredita”, admite não estar provada a acusação.

Comentando descobertas mais recentes (primeira metade do século 20) o autor declara: “O universo é, pois, maior e mais complexo do que antes parecera. Não estamos, como supúnhamos, em vésperas de compreendê-lo. Quanto maior a esfera de conhecimento, maior a área de contato com o desconhecido, e quanto mais penetramos o desconhecido, menos fácil é representar em termos simples e compreensíveis o que lá encontramos”.

Confissão importante! O conhecimento científico, que tornou tantos sábios em criaturas arrogantes e orgulhosas, deveria sim, de preferência, estimular a humildade.

 

Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2023.