Mariana (Várias Histórias) - de Machado de Assis.

Dos contos enfeixados no volume Várias Histórias, Mariana foi o único que me desgostou. Seu desenlace não é digno do talento do Bruxo do Cosme Velho. O ponto de inflexão da minha expectativa, passando da favorável à desfavorável quanto ao desenrolar trama, e posterior arremate final, deu-se à leitura da cena sucedida no escritório da casa de Mariana e Xavier: Evaristo, o herói da história, a admirar um retrato de Mariana, de vários anos antes, ela, então, na flor de seus vinte e cinco antes; o cômodo, decrépito, o de quando Evaristo visitou, pela última vez, Mariana, o que se havia passado dezoito anos antes de ele ir-se à Europa.

O rompimento entre Evaristo e Mariana, sua amante e esposa de Xavier, deu-se à descoberta, pela mãe de Mariana, da relação ilícita entre ele e ela; a mãe de Mariana intercedeu em favor da conservação dos laços matrimoniais contratados por sua filha e Xavier sete anos antes. Obrigados a romperem o relacionamento ilícito, os amantes sofreram. Mariana quase deu cabo de sua vida; não morreu, entretanto, mas flagelou-a sofrimento indescritível.

Regressado da Europa dezoito anos após ser obrigado a afastar-se de sua amada, Evaristo foi em vista a ela; e, na casa dela, após alguns minutos de espera, no escritório, a admirar-lhe o retrato pendurado à parede, encontra-a no gabinete, mortificada, aos pés de Xavier, enfermo, estirado num canapé, em vias de partir desta para a melhor. Evaristo fala à Mariana, que, ocupada com seu marido, não lhe dedica um mísero olhar. E morre Xavier uma semana depois. Mariana não lhe comparece ao enterro, e nem à missa de sétimo dia dedicada a ele. Evaristo foi visitá-la na casa dela, e não a encontrou. E viu-a, de luto, retirando-se da Igreja do Espírito Santo; e ela fingiu não vê-lo. E Evaristo regressa à Europa.

Não correspondeu às minhas expectativas a trama, após a cena que se deu, no escritório, Evaristo a fitar o retrato de Mariana e a evocar o capítulo final de sua relação com ela. Eu antevera ao conto um epílogo, que Machado de Assis não considerou. Se posso me atrever a dizer, que ousadia! quanta presunçoso!, o capítulo final que ao conto imaginei é melhor do que o que Machado de Assis lhe deu.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 25/05/2023
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