O Peso do Pássaro Morto - Aline Bei

A mocinha de 8 anos brinca de esconde-esconde.

A amiga esconde pra nunca mais.

A mocinha vai pedir aconchego pro sinhô que ela confia.

O sinhô não tá. Pra sempre.

A mocinha perde o namoradinho por causa de um amor que virou posse.

O namoradinho foi pegar o que era dele.

A mocinha perdeu o dom de sorrir.

O tempo morre, tudo morre desde que nasce.

É um título interessante. Quando o pássaro é morto ele é tão leve que nunca cai onde a gente acha que cairia, principalmente se estiver ventando. Assim também é narração da vida dessa pessoa que não sabemos o nome e que precisa desde cedo lidar com a perda, a morte, a dor e no meio de tudo isso viver deliciosamente.

O arranjo de palavras é uma canção.

Ao ler em voz alta soa como música. Além de várias referências de músicas, encontro essa história em pelo menos duas:

"Mais cedo ou mais tarde na vida, você perde aquilo que ama." - Florence and the Machine

"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é." - Caetano Veloso

Gostei da forma criativa como terminou, num plot.

Os levantamentos que ela faz sobre tirar a própria vida e, no final, que durante toda a gravidez pensou em abortar (enquanto conta sobre a vida bem-sucedida que o filho conduzia).

Um pouco sobre a relação entre pais e filhos que vai se distanciando com o tempo.

O paradoxo de amar o filho e não querer estar com ele (muito comum em depressão pós-parto).

Só tem tragédia, mas contada de uma forma tão bela como contemplar o quadro 'O grito' de Edvard Munch.