Conversas com Goethe - Eckermann

Quando Eckermann, até então um desconhecido aspirante a poeta enviou o seu manuscrito “Contribuições para o estudo da poesia” ao mais eminente homem das letras da Alemanha, com o intuito de conseguir uma recomendação a algum editor literário, mal poderia imaginar que nascia ali uma relação de amizade que perduraria pelos próximos e últimos nove anos da vida de Goethe, registrados e depois publicados por Eckermann, em 1836, quatro anos após a morte do autor de Fausto, sua Magnum opus.

O livro de Eckermann é considerado uma fonte importante para entender Goethe e sua influência nas artes e na cultura alemã do século XIX. O conteúdo da obra é em grande parte de diálogos ocorridos entre os dois homens durante o período no qual Eckermann foi secretário de Goethe, em Weimar, entre os anos de 1823 a 1832, e nos mostram insights valiosos sobre a mente, as ideias e a personalidade de umas das figuras mais importantes do Romantismo alemão. As conversas abordam uma variedade de temas, incluindo literatura, filosofia, arte, ciência, religião e da vida cotidiana da sociedade europeia, repleta de duques e príncipes de um sistema aristocrático que estava perdendo cada vez mais espaço no cenário político da época devido ao crescimento da burguesia, o que faz com que aqui abordemos apenas alguns assuntos que ajudam a ilustrar, de uma maneira mais geral, a influência que Goethe exerce nas artes até os dias de hoje.

É tarefa muito difícil não falar de Schiller quando tratamos de Goethe, haja vista o papel que ambos escritores tiveram na solidificação de uma literatura que, desde Lessing, estava querendo seguir seu próprio caminho, afastando-se da influência da cultura francesa nas artes da Alemanha. O teatro alemão nunca mais foi o mesmo após as contribuições, muitas em conjunto, de Goethe e Schiller. A teoria das três unidades de Aristóteles para o drama trágico, qual sejam, de tempo, espaço e ação, que foi trabalhada rigidamente pelos dramaturgos franceses do século XVII, principalmente por Corneille e Racine e que era exemplo a ser seguido até então no teatro alemão, foi sendo questionada e tendo cada vez menos força. Em detrimento de um teatro que representava obras nas quais os valores e princípios morais da sociedade eram levados à cena, como faziam os franceses, começou a ser explorado um teatro onde os sentimentos, as paixões, na maioria das vezes avassaladoras, eram retratadas, muito em conta da redescoberta de Shakespeare e de outros poetas da dramaturgia elisabetana, como Marlowe, Kyd, Fletcher, entre outros. Dessa nova perspectiva na construção das peças alemãs nasceu um novo movimento literário liderado por Goethe e Schiller, o Sturm Und Drang (tempestade e ímpeto), que são as origens da estética do romantismo alemão. O próprio tema do Fausto, embora de origem alemã, foi encenada pela primeira vez, com grande sucesso, em 1592, com texto e direção de Marlowe e é muitas vezes considerada superior a qualquer obra de Shakespeare.

Mas não foram apenas os dramaturgos ingleses que permeavam as ideias de Goethe quando este demonstrava suas opiniões sobre a arte do teatro ao seu jovem secretário; os autores do período clássico da Grécia, como Sófocles, Ésquilo e Eurípedes, além de Menandro e os representantes da Comédia Nova, são recorrentemente analisados pelo gênio de Goethe. Essa fase na qual foi prolífera sua contribuição ao teatro alemão, na autoria de dramas com temas da cultura antiga, deu início ao denominado Classicismo de Weimar.

Lord Byron, poeta britânico cujo prestígio quebrou fronteiras, como podemos ver na influência que teve na nossa literatura do Brasil, sendo a 2° geração do nosso romantismo chamada de ultrarromântica ou byroniana, também é muito citado por Goethe nos seus colóquios com Eckermann.

Em última análise, "Conversas com Goethe" não apenas fornece uma janela para a mente de um dos maiores escritores que já viveram, mas também oferece uma visão única da relação entre mestre e discípulo, proporcionando uma leitura fascinante para os amantes da literatura, da filosofia e da história.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 31/01/2024
Reeditado em 01/02/2024
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