Amor insensato - Junichiro Tanizaki

Junichiro Tanizaki - Amor insensato, SP, Companhia das Letras, 2004

Escrito em 1924, Amor Insensato antecipa a temática do homem mais velho apaixonado - ou usado - por uma adolescente. Acompanhamos a relação entre Naomi, de 15 anos, uma ninfeta pobre e sem estudo, e Joji, engenheiro, "rapaz ajuizado" de 28 anos. E isso, desde o início, é bastante prazeroso. Sem contar, que o prefácio (para explicar um pouco o momento em que o Japão atravessava então, do início da ocidentalização de sua sociedade) é de ninguém menos que Alberto Moravia, autor da obra-prima 1934.

Na Tóquio dos anos de 1920, o engenheiro Joji leva para casa, para futuramente com ela contrair núpcias, a adolescente Naomi, uma bela garota de quem a família quer se ver livre. A intenção de Joji é fazer com que Naomi estude e aprenda boas maneiras para que se transforme numa "mulher distinta" - sua mulher. Embora o enredo lembre algo de Pigmalião, de George Bernard Shaw - o professor Higgins educando Eliza Doolittle -, na verdade essa história tem mais a ver com a Lolita de Vladimir Nabokov, a ninfeta Dolores cheia de vontades e caprichos - e que veio a público somente em 1955, portanto três decadas após o livro de Junichiro Tanizaki.

Mas o tempo vai passando (e aí já foram uns cem páginas do livro) e Naomi, embora continue bela, quanto aos modos em nada se parece com a distinta mulher que Joji imaginava ter em casa um dia – ela está cada dia se ocidentalizando mais, exige dele aprender piano, inglês e dança moderna (frequentar bailes, dançar a dois, etc.). Mais que isso: aos poucos, com suas compras exageradas e sua preguiça, vai levando o engenheiro à falência financeira. Mesmo assim ele continua fazendo tudo por ela: não conseguiria viver sem as "brincadeiras" que os dois aprontam na cama à noite - ele confessa a certa altura.

Amor Insensato tem capítulos curtos, parágrafos pequenos, diálogos rápidos, descomplicados e narrativa fluida. Mas acima de tudo conta uma história interessante, que prende a atenção sempre: queremos saber o que vai acontecer com o casal Joji & Naomi. De volta, então: Naomi, além de ter se tornado uma pessoa um tanto diferente daquela que Joji esperava - é desleixada, preguiçosa, vaidosa e cheia de vontades -, agora lhe inspira suspeitas. Arranjou quatro rapazes como amigos e com eles dança, bebe e passeia, muitas vezes desacompanhada de Joji. Ele começa a ficar desconfiado da fidelidade da garota. E também de que ela tenha perdido a castidade com algum desses rapazes. Mas são apenas suspeitas ainda...

Suspeitas que um dia acabam sendo confirmadas a Joji por um dos rapazes. Que ela também traía com outro... Não vou contar como o livro termina; ele termina bem diferente da história de Nabokov, por exemplo. Antes do final, recolhi algumas metáforas produzidas por Joji, quando ele descobre que sua amada deixara de ser pura e imaculada:

"Naomi era para mim como uma fruta de meu próprio cultivo. Eu empenhava esforços de todo tipo e profunda dedicação até levar aquela fruta a seu maravilhoso amadurecimento atual. Saboreá-la era a recompensa natural para mim, seu cultivador, e a mais ninguém deveria ser outorgado semelhante direito. E eis que de repente um completo estranho a descasca e nela crava os dentes." Maldita Naomi...

Ótimo livro.