Recursão, Blake Crouch

REC

Se você gosta de ação, leia este livro.

Barry é um policial que está em serviço e foi chamado para atender uma ameaça de $u|c|d|0.

E aqui está a coisa MAIS IMPORTANTE que você precisa saber sobre este livro.

Tem gatilhos (isso mesmo, no plural) bizarros de $u|c|d|0 e pra quem esse tipo de gatilho afeta funciona assim (pelo menos pra mim): interessante, mais uma possibilidade pra lista.

Eu acho que é urgente as editoras colocarem nas capas um aviso BEM GRANDE do tipo de gatilho que a gente pode encontrar ali, assim como a gente vê em alimentos ricos em gordura, açúcar etc. Será que a editora pensa que vai vender menos se colocar o aviso?

E aqui entramos no cerne do livro que é a crítica à indústria do entretenimento. Qual o impacto das tecnologias surgidas recentemente, na mente humana, na percepção de realidade e na humanidade como um todo? Metaverso, chips conectados ao pensamento etc.

Outro ponto na narrativa que traz uma crítica é o mundo acabar com mísseis vindos da China e Rússia.

O teor sensacionalista da narrativa é cansativo pra quem lê com senso crítico apurado. É mundo acabando, é coisa mais linda/feia/dolorosa/incrível/____(adicione adjetivos aqui) que Barry, Helena, Slade e companhia já viram na vida (ops, vidas!). E o laboratório de vidro da Darpa (órgão governamental chefiado por um subalterno cujos superiores não sabem o que ele faz no projeto HÃ?!) é o MAIS SEGURO do mundo.

Ao investigar a SFM (Síndrome da Falsa Memória), Barry termina num hotel desconhecido e muito suspeito. Ele invade o hotel e simplesmente ninguém lá o vê ou se importa com o fato dele ter invadido. Ele senta no bar do hotel e aceita a sugestão de bebida da atendente. Barry é um investigador do setor de roubos. Com um investigador desses as taxas de solução de casos serão bem altas, certo?! Aí a gente vê que é um personagem mal construído, porque como pode ele ser investigador e ingênuo desse jeito? Até aí tudo bem.

Barry volta a uma lembrança vívida e à qual ele gostaria de ter agido diferente. Ele finalmente consegue viver onze anos do jeitinho que ele queria (ou quase, porque, afinal de contas, se a vida for exatamente do jeito que quer, sem dificuldades e desafios, de onde virá o aprendizado? E o que seria o aprendizado sem a lembrança do erro?) tendo como único elemento surpresa a vida de sua filha Meghan.

A lei de causa e efeito é soberana. Quando ele perde a filha pela segunda vez e fica possesso vai em busca do misterioso hotel e antes que ele possa encontrá-lo é abordado por Helena. Que em alguma linha do tempo o viu destruir a chance dela de consertar o erro de ter criado a cadeira. Eles invadem o hotel juntos (e num trecho é dito que ele invadiu o hotel com Gwen só mais um furo no roteiro) a fim de matar Slade e destruir a cadeira.

Você está chorando diz Helena.

É muita coisa para absorver.

Ela segura a mão dele.

Eu finalmente lembro diz Barry.

De quê?

Daqueles meses em Nova York com você, depois da primeira vez

que invadi o hotel de Slade, com Gwen. Eu me lembro do fim daquela

linha do tempo, de beijar você dentro do tanque, pronta para morrer.

Estava apaixonado.

Por causa dessa invasão Barry morre e Helena é presa por Shaw (Darpa). É obrigada a ajudar Shaw na administração da cadeira que Raj recuperou no laboratório de Slade no hotel. Nesse hotel Slade oferecia às pessoas a chance de voltarem a alguma lembrança, não sei qual o custo disso para as pessoas pois não é mencionado (talvez seja apenas para o bel prazer de Slade). Na Darpa, Shaw usa a cadeira para alterar crimes cometidos até 5 dias atrás. O detalhe é que mesmo voltando e resolvendo o crime antes que ele aconteça, quem morreu vai sentir do mesmo jeito, como lembrança morta. O principal problema dessa bagunça toda.

Shaw aparece desconsolado no apartamento-prisão de Helena e diz que seus superiores querem que ele volte mais atrás no tempo para resolver crimes de guerra. E pra isso seria preciso voltar na memória de um adolescente e isso ainda não havia sido testado. Do nada aparece a ameaça de um ataque em massa aos EUA com ogivas nucleares vindos da China e da Rússia porque ALGUÉM hackeou o computador de Slade e conseguiu fazer uma engenharia reversa, construindo a cadeira e comercializando-a. Helena se vê na obrigação de pôr um fim nisso e volta para sua adolescência.

Inicialmente a ideia é descobrir como não deixar que as lembranças mortas apareçam numa nova linha do tempo. E a primeira coisa que pensei foi é só ela não construir a cadeira. Só que não! Porque aí o filme, ops, o livro acaba, certo?

E é aí que começa um loop infinito de tentativas. E nesse boomerang nuclear tem muita ação e adrenalina que é de tirar o fôlego. Pra mim foi a única parte boa do livro.

Quando Helena, com seus mais de 140 anos, já deteriorada de tanto ir e voltar, vivendo 33 anos de cada vez, decide se matar, Barry usa a cadeira mais de dez vezes (se mata mais de dez vezes tadinho!) pra voltar e ter Helena por mais um tempinho (mesmo tendo que limpá-la, alimentá-la, vesti-la) e nessa brincadeira ela também se mata mais de dez vezes, né?! Ohhhhhhhh!

O romance entre os dois é o mais clichê que existe, e o mais meloso também, afff. Não tenho paciência pra isso.

Os dois se conhecem numa linha do tempo em um bar de Portland, numa das vezes que Helena usa o tanque ela diz pra Barry minha alma conhece a sua.

Quando Barry está prestes a se matar ao lado do túmulo de Helena, se dá conta de que ele pode voltar e impedir que Helena construa a cadeira, e pra isso ele precisa matar Slade, que foi assistente dela e que descobriu a descoberta dela.

E eu me pergunto, como ele impediria Helena de construir a cadeira? Apenas matando Slade? E se ela descobrisse sozinha?

E assim encerro esta resenha que parece infinita, com a lição que este livro me deixou: carpe diem.

Não dá pra mudar o passado, não existe coisa predestinada, não dá pra prever o futuro. Só se tem o agora. A catástrofe a nível mundial demonstra a questão da teoria do caos, vulgo efeito borboleta. A ação de uns afetam outros, mesmo que indiretamente.

O livro é muito bom no quesito ganchos e ação. Daí vem minha nota. Sendo Blake roteirista, ele se saiu muito bem ao criar algo feito para virar filme, um filme de AÇÃO. Embora sua inspiração seja na pesquisa de Xu Liu e Steve Ramirez, ao mapearem lembranças de ratos, aqui ele adicionou outros temperos, que não me deixaram com nem um pingo de vontade de experienciar mais.

Filmes que a leitura me lembrou:

Interestelar

Pulp Fiction

Minority Report

Vanilla Sky

Todos os caminhos são iguais

O que leva à glória ou à perdição

Há tantos caminhos tantas portas

Mas somente um tem coração

E eu não tenho nada a te dizer

Mas não me critique como eu sou

Cada um de nós é um universo, Pedro

Onde você vai eu também vou Meu amigo Pedro, Raul Seixas