"Amarás o Senhor teu Deus", resenha

 

“AMARÁS O SENHOR TEU DEUS”, resenha

Miguel Carqueija

 

Resenha do livro “Amarás o Senhor teu Deus”, de Amedeo Cencini. Edições Paulinas, São Paulo-SP, 2ª edição, 1991. Título original: “Amerai il Signore Dio-tuo – Psicologia dell incontro con Dio”, copyright Centro Editoriale Dehoniano, Bologna, 1986. Tradução: M. T. Voltarelli. Capa: Cláudio Cuellar. Apresentação: Giuseppe Sovernigo. Subtítulo: “Psicologia do encontro com Deus”.

 

É apenas a minha opinião, mas este livro me pareceu fraco e enfadonho. Com 200 páginas, apresenta uma série de reflexões sobre a vivência religiosa, a experiência de Deus. Todavia apresenta trechos de valor. Na página 100, por exemplo, podemos ler:

“Quando Deus se revela a uma pessoa, tudo o mais perde valor, ou assume um valor novo, diferente, impensado. É como se nossos olhos se abrissem e o mundo de ontem perdesse sua atração. O que antes era importante para que nos sentíssemos realizados, agora descobre-se que nada é. Já não existe, porque de modo algum nos realiza.”

E isso para mim faz sentido, principalmente quando eu penso em quanto deixou de ser importante para mim assistir televisão, inclusive noticiários.

Cencini fala, na página 33, na necessidade de uma revelação: “o homem precisa saber quem ele é chamado a ser”. Ou seja, identificar a sua vocação, em meio a tantas possíveis.

Infelizmente ele faz jogos de palavras que, no fim das contas, não fazem muito sentido, parecem um simples intelectualismo. As linhas a seguir ilustram bem o pedantismo do texto:

“Nos valores que constituem seu eu ideal, o homem não descobre apenas simples normas a seguir ou modelos a copiar. Descobre, antes, a revelação do outro eu, uma realidade que precisa internalizar, fazer própria, torná-la viva na própria carne... a ponto de se encontrar sempre mais naquilo que é (=eu atual), mas também naquilo que ele é chamado a ser, naquele homem novo que Deus dia-a-dia lhe vai revelando e pacientemente construindo nele...”

O problema é que não é a intelectualidade em si que nos leva a Deus, ou os simples e incultos não chegariam a Ele.

Mesmo assim o autor ganha pontos quando, na página 96, ao identificar a fraqueza das pessoas do tipo racionalista: “Não têm o sentido da transcendência, e muito menos do mistério.” É como um autor ateu que li um dia desses, que para “provar” que não há vida após a morte, argumentou que o cérebro apodrece. Ora, mas a alma não apodrece. E, acrescenta Cencini, tais pessoas não sabem adorar, portanto. “Quem não adora, não pode conhecer a Deus, nem se deixa amar por ele. No fundo, teme e acaba tendo medo até de sua própria vida”, “Tudo o que tem sabor de incerteza é para ele um problema”.

Em suma, no meu entender trata-se de um livro que busca o discernimento de vivência espiritual, mas o faz numa linguagem difícil e que requer paciência para ler.

 

Rio de Janeiro, 2 a 4 de abril de 2024.