Eros e Thanatos -
      Contos de amor e morte
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      Acabo de reler o livro Contos de Amor e Morte de Arthur Schnitzler. O autor, um médico austríaco que abandonou a medicina aos 39 anos, foi um revolucionário na literatura de sua época. Nascido em Viena (1862-1931) toda a sua obra está baseada nos conflitos da alma humana provocados pela forte presença do amor e da morte, permeados pela sexualidade e a neurose. Contemporâneo de Freud, que o admirava, apesar de se recusar a conhecê-lo pessoalmente, galgou o mesmo caminho do Pai da Psicanálise, através da literatura. Freud o considerava o seu “duplo” em virtude do tratamento que dava aos seus personagens, dissecando suas vidas através de suas realidades internas.A realidade dos personagens de Schnitzler percorria caminhos sombrios. Era povoada de neuroses, sentimentos exaltados,loucura e suicídio. O livro que acabei de ler não foge a regra. São doze contos escolhidos entre os sessenta que escreveu e publicados pela Cia das Letras em 1987. São contos de amor que levam a morte. Mistério e assombro entrelaçam a vida e a morte. Eros e Thanatos, a polarização do amor e da morte. Foi uma estranha escolha para leitura de férias, em uma praia do litoral nordestino, mas considerei como um contraponto. Além do mais queria reler o livro que, em determinada época de minha vida, serviu como inspiração para a elaboração de alguns contos. Um Mestre.Vale a pena conhecê-lo, através deste livro, ou de outros já publicados em português como Retorno de Casanova, também da Cia das Letras, Senhorita Else (Paz e Terra) e Aurora (Boitempo).

 

       São doze os contos: Herança, que trata de amor, morte e traição em um triângulo amoroso trágico; Meu amigo Ypsilon, em que o protagonista se apaixona pela criatura de sua própria fantasia; Em Os mortos calam, parte da idéia que muitas vezes os vivos se sentem obrigados a contar as verdades que os mortos não puderam falar; em A Próxima, um viúvo se recusa a aceitar a morte da mulher. A última carta de Andréas Thameyer, já pelo título anuncia a morte de um suicida, mas vale a pena ler para descobrir a razão pelo qual escolheu a morte. Segue-lhe A Profecia, A sina do Barão Von Leisenbohg, o incrível A morte do solteirão, O Diário de Redegonda,O assassino e finalmente o fantástico Fuga para a escuridão que mostra brilhantemente o caminho de um homem até a loucura.

 

       Banido pelo nazismo na Alemanha e Áustria, na década passada vimos à ressurreição de sua obra. E embora não tenha se tornado um best-seller, é comprovadamente um grande escritor. O cineasta Stanley Kubrick baseou-se em obra sua para filmar De olhos bem fechados , inspirado no conto Traumnovelle. Mas aí já seria outra resenha.

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