Sem Nome - Parte III

Em toda minha longa vida (longa mesmo) nunca havia experimentado tal sensação, chegava a ser excitante tal coisa. Medo, temor, alucinações.. Meu movimentos eram rápidos, quanto mais adentrava ao centro, mais pessoas encontrava e mais espanto causava..

Até que enfim cheguei a um hotel.. acredito ser o único da cidade.. um 5 estrelas, muito belo, também barroco.. A frente.. duas pilastras totalmente trabalhadas em mármore, tapetes persas convidativos, uma atendente que me lembrava muito os de origem asiáticos, talvez japonesa.. Muito sensual, sempre amei as mulheres nipônicas, seus olhos, seu cheiro, seu cabelo eram lindos, mas meu desespero era maior.

Ela totalmente atenciosa e provavelmente certa de meu desespero, educadamente perguntou:

- A quem posso ser útil monsieur?

- A suíte mademoiselle – retruquei de modo ríspido – A melhor suíte que tem.

Ela sorrindo, acenou com a cabeça positivamente e pediu que lhe seguisse até o elevador.

Lá me entregara o cartão que servia como chave.. (adorava a sensação de modernidade misturada com o ambiente todo Luis XV, sim, tudo que se vira no local era medieval.. e mesmo assim moderno)

- Suíte 193 monsieur, 10º andar. Mas alguma coisa que lhe posso ser útil?

Respondi instantaneamente, como se ela tivesse lido minha mente ao perguntar isso.

- Má chèrie, uma garrafa de vinho, o melhor vinho que vocês tiverem.

Mesmo diante de tal desespero, eu precisava de um local belo.. Precisava estar em um local que me fizesse bem.. Afinal, se fosse ser salvo e minha alma clamada pelos deuses, queria estar em uma cama vitoriana e dossel feito a mão.. Um tanto exibicionista, não acham? Mas sim, sempre fui alguém que se preocupava com a beleza, com ambiente.. Um crápula de dotes requintados e que não fazia esforço para transparecer tal coisa.

Cheguei ao meu quarto, como esperava, uma cama vitoriana, com dossel que parecia ter sido feito a mão e como imaginei, a mobília era toda Luis XV, vários abajures pela suíte, alguns quadros de Van Gogh.. mas que não eram originais.. pena!

Ao centro da sala, um enorme tapete, também persa e ao centro do mesmo alguns sofás e mesas de centro totalmente adornadas por vasos cheios de lírios, desfrutava de uma pequena luz do único abajur aceso no local.

O mais incrível era o balaústre que eu havia percebido. Parei alguns minutos para contemplar esta obra prima.. Logo me meio a mente a cena de O Fantasma da Ópera.. Mon Dieu, aquilo era fascinante.

Sentei-me em um dos sofás..e percebi que havia também um pequeno aparelho de som, na qual liguei e desfrutei de alguns minutos da música local, nada que me fizesse agrado, mas distraia ao mesmo tempo.

Pouco tempo depois, algumas batidas na porta e a indicação clara.

*serviço de quarto*

Ah! Vinho, que ótimo – pronunciei para eu mesmo.

Atendi a porta e recebi o vinho, dando-lhe uma gorjeta razoavelmente grande..(Eu era exibicionista não disse?)

O vinho era um Almanera Nero d’Avola, italiano. Sua fragrância era inigualável... Acompanhara junto uma taça de cristal muito linda também.. com alguns detalhes talhados em seu corpo.. flores talvez, mas muito linda.

Desliguei o som e voltei a sentar-me, descalçando meus sapatos.

Passei a degustar o doce vinho tinto e relaxar meu corpo, queria esquecer tudo o que passara anteriormente. Meu corpo estava tão tenso, que mesmo o vinho demorou para exercer o efeito tranqüilizante, mas algum tempo depois comecei a relaxar.

Tomar um banho- sussurrei a mim mesmo. Ao entrar no banheiro a sensação de um vulto a minha esquerda, olhei rápido, mas não pude ver, entretanto sua presença era real. Tentei de desvencilhar desta sensação e coloquei a banheira para encher, junto com alguns sais de banho. Precisava clarear minha mente e nada melhor que um banho revitalizador. Não é?

Ainda a presença estava no banheiro, eu não conseguia ver do que se tratava..

Despi-me e entrei na banheira e fechei meus olhos, tentei relaxar, lembrava de algumas poesias que amava.. tentei manter minha mente longe, longe para que fugisse desta insanidade que estava vivendo.

Um arrepio percorreu meu corpo.. e fez com que abrisse os olhos.. Ao olhar em volta, dezenas, talvez centenas de espectros dentro da suíte, todos olhando-me, mas, suas formas eram como as de névoas.. Devo estar ficando louco- disse. Devo ter enlouquecido e não percebi.

Fui tomado por uma cólera inimaginável e comecei a gritar enfurecido. Mas nada mudara, apenas o silêncio mórbido do local povoado por seres espectrais que pareciam adorar minha insanidade..

- Vocês querem me enlouquecer, estou certo disso.. Seus, seus – fui atingido por um temor enorme, não conseguia mais dizer uma palavra sequer.

Queria sumir.. queria que sumissem.. Sumam – gritava em minha mente.

Saiam daqui.. Inútil fazer isso..

Com uma ultima tentativa, foquei-me em duas palavras..

SUMAM DAQUI – retalhei o local todo com este estrondo.. usei tamanha força que cai em exaustão.. permaneci desacordado apoiado na borda da banheira.

Algum tempo depois, pouco a pouco acordando.. E assustado olhei o quarto.. nada, nem vestígios.

Estava ficando louco..

O que estava acontecendo comigo?

(continua)