Rua Azusa

é um culto.

Assisti uma propaganda dentro do SP2, um programa "jornalístico", entre aspas; as matérias são propagandas, publicidade: propaganda do governo, vacina, inflação como conseguir um emprego; propaganda da política do medo (assaltos, sequestros), publicidade do governo - o que ele tem feito de "bom". Entre essas outras propagandas aparece a propaganda desse musical: rua Azusa, ele foi vendido como um musical de negros. Gospel.

O gospel me pegou ainda na infância, são músicas de intensa força, energia. E falam de Deus.

Fomos assistir ontem. Venderam bauru e misto no intervalo.

O musical é um musical evangélico, se eu soubesse não teria ido. Não é o tipo de propaganda que eu gosto de assistir.

Falar qualquer coisa de rua Azusa vai passar, por ser um musical evangélico, por uma análise do que é, para mim, a emergência do evangélico no país.

Muitas pessoas da plateia, entre crentes, estavam muito negros e negros crentes também, levantavam as mãos e acompanhavam a peça como se fosse fosse um culto, o que definitivamente se transformou na segunda metade.

Números muito bons, inclusive com produção digna desses musicais transplantados da Broadway. é uma produção muito digna, muitos graus a mais que uma produção amadora, dessas de colégio ou de igreja; é uma grande produção. Mas a mensagem neopentecostal domina tudo. Os cantores e dançarinos serão todos crentes?

Agora, o porquê dizer crente, por quê a crítica?

O que faz o Brasil o Brasil, livro que é referencia nos cursos de antropologia pelo bananão afora, foi escrito antes da emergência e da ampliação do povo crente, que caminha célere a tornar-se maioria da população do salve, salve. o lindão pendão, etc. o Livro do Roberto da Matta é de 1986, outros livros para explicar o que é esse lugar, e associando o neo pentecostalismo ao neoliberalismo estão por aí, ainda que não tão definitivos como o livro do da Matta.

Essa emergência de conseguir resultados, essa emergência, do povo crente, o lance do pentecostes, falar em línguas, gritar e estrebuchar, por todas essas linhas, eu estou fora.

Esse show, esse ritual, estou fora.

Essa situação mesmo de acreditar, eu estou fora.

O musical fala de um pastor que abre uma porta e promove uma possibilidade de através da palavra curar os doentes, resgatar os viciados e prostitutas para o caminho do bem e promover a integração de negros e brancos.

A diferença do brasil e da américa, aqui a maioria da população é mestiça, aqui o povo negro pode, a duras penas, manifestar uma religião afro, a diferença é muito grande.

O racismo é denunciado, mas se perde essa denúncia entre tanta propganda do ser evangélico.

É um musical engajado, com uma missão de transmitir valores religiosos, neopentecostais. Inclusive eu achei isso um porre.

Há horas tantas eles afirmam que o terremoto de São Francisco foi um castigo de Deus.

Acho isso muito perigoso.

Isso é uma mentira.

Eu acredito em outra boa nova, em outro Deus.

Recentemente um novo ministro foi empossado. o ministro é evangélico. Na comemoração a família gritou e estrebuchou e falou em línguas, inclusive.

A manifestação de Deus, ocorre de diferentes formas, provavelmente e inclusive através de gritos e estrebuchos, e através de castigos, mas esse não é o meu deus.

Esse país nunca foi o meu. ele é dos outros. e eu estou cada vez mais fora, de le e de tudo oque está rolando por aqui.

Mauricio Miele
Enviado por Mauricio Miele em 12/12/2021
Código do texto: T7405696
Classificação de conteúdo: seguro