SE NÃO TENHO O COURO MOLE,
NÃO TINHA SOBREVIVIDO!


Eu nunca fui de trabalho
pois desisti dessa laia.
Sempre gostei da gandaia,
de jogar bingo e baralho.
Quando ocorria atrapalho,
eu, bastante precavido,
chorava um pranto fingido
para defender a prole.
Se não tenho o couro mole,
não tinha sobrevivido!

Na escola fiz gazeta
nas provas colei bastante,
fui um péssimo estudante,
quase parei na sarjeta.
Mas de gorjeta em gorjeta
fui aprumando o sentido,
ficando mais enxerido
qual concertina de fole!
Se não tenho o couro mole,
não tinha sobrevivido!

Rapaz, fui bom cachaceiro,
tirei “santo” no gargalo,
e quando pegava embalo
usava uisque fuleiro.
Como fino faroleiro,
gostava dum remoído:
fazendo de distraído,
roubava da mesa um gole.
Se não tenho o couro mole,
não tinha sobrevivido!

Quando adulto, fui mudando
ficando mais consciente,
fui sendo “gente da gente”,
mas errando vez em quando.
Depois, fui me resguardando,
aos mais velhos dando ouvido,
até ficar mais sabido,
a desejar um console!
Se não tenho o couro mole,
não tinha sobrevivido!

Agora que estou maduro,
o cabelo embranquecendo,
do presente me esquecendo,
sem mais visão de futuro,
moleza não mais procuro
deixo só subentendido
que continuo fugido
do trabalho que me amole.
Se não tenho o couro mole,
não tinha sobrevivido!

JPessoa, 24.09.10
oklima
Enviado por oklima em 24/09/2010
Reeditado em 28/08/2014
Código do texto: T2518702
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