Olha o Rapa!

É manhã. Surge o arrebol.

O camelô vai à luta.

Pra ter um lugar ao sol,

está feliz na labuta.

Vai à praça destinada,

outrora, nobre e elegante;

hoje, toda transformada

em mercadão ambulante.

Em meio à poluição

e decadência misérrima,

encontra-se o ganha-pão

da sub-classe paupérrima.

E vai em ânsia frenética

pelas ruas, confiante,

quer sob chuva benéfica,

quer sob um sol escaldante.

Tem por teto a natureza,

de tudo sente carência.

Propagando com destreza,

desafia a concorrência:

- Bananas! Quarenta é mil!

Grita o homem, de repente,

numa agitação febril.

- Olha o desmantelo, gente!

E o garotinho pacato

rebate, pois não é tolo:

- Banana, aqui, é um barato,

é trinta, mas tem miolo!

Usando ditos propaga

e sempre o freguês enleva:

- Moça bonita não paga,

mas é que também não leva.

Não existe, ali, cultura,

mas são doutos os dizeres;

cultos até com fartura,

não lhes faltassem os Poderes.

Sempre surge um burburinho.

A feira está se espalhando.

Então, grita o menininho:

-Olha! O Rapa vai passando!

Oh! Que vida sem esperança

o camelô tem por dia!

Faltam paz e segurança,

direito e cidadania.

***

Maria de Jesus. Fortaleza, 16/06/2011.

Maria de Jesus
Enviado por Maria de Jesus em 16/06/2011
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