Queria dizer que te amo...

[ Três variações sobre o mesmo tema]

1.

Eu queria dizer que te amo, bem baixinho...

Sussurrando ao teu ouvido, toda dengosa.

Eu queria te ter nos braços, te dar carinho,

feito a rima do meu verso e na doce prosa.

Queria ser a suavidade do vento no moinho,

a gata do telhado, a que tem cheiro de rosa,

Eu queria dizer que te amo, bem baixinho...

Sussurrando ao teu ouvido, toda dengosa.

Queria, de novo, ter as asas de passarinho

E pousar no teu peito levando um acalanto,

Na imensidão do mar ou na paz do ribeirinho,

Nas águas de bom presságio e toda encanto;

Eu queria dizer que te amo, bem baixinho...

2.

Eu queria dizer, bem baixinho, que te amo.

Sussurrar no teu ouvido a palavra mansa...

Te falar do prazer que é tecer o que tramo

E de como meu corpo suaviza na tua dança.

Queria te mostrar como é que eu inflamo,

Por esse teu jeito malandro que me balança,

Eu queria dizer, bem baixinho, que te amo.

Sussurrar no teu ouvido a palavra mansa...

Queria que visses o que por ti eu derramo

Desse fogo que me corre e em chama lança

O sussurro do desejo que em sonho esparramo

E com minhas pernas ao te fechar numa trança,

Eu queria dizer, bem baixinho, que te amo.

3.

E só que te amo, bem baixinho, eu queria dizer!

Te puxando pra perto do meu corpo tão aceso...

Depois... te conduzir pelos caminhos do prazer,

Te banhar de gozo e com o que mais te faça teso.

Brincar na cama, rolar gostoso nesse querer

Até te algemar, ao meu amor, te fazendo preso,

E só que te amo, bem baixinho, eu queria dizer!

Te puxando pra perto do meu corpo tão aceso...

Queria, com avidez e luxúria, lamber e beber

O sal suado pelo teu corpo ao te fazer indefeso,

Dobrado ao meu delírio de fêmea e surpreender

Teu falo no meu ventre, sem compromisso ou peso,

E só que te amo, bem baixinho, eu queria dizer!

Cada Rondel feito aqui segue a formação de:

ABab/abAB/ababA/

formando os dois quartetos e a quintilha

Sem número certo de sílabas

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O Rondel se caracteriza por:

Ser composto, necessariamente, com dois quartetos e uma quintilha. A característica do Rondel, é que os dois primeiros versos do primeiro quarteto serão os dois últimos versos do segundo quarteto. O último verso da quintilha, e do poema, será sempre o primeiro verso do primeiro quarteto.O Rondel, devido à sua estrutura, trabalha somente com duas rimas: ABAB - BAAB - ABABA ou conforme acima.

Mas a titulo de exemplo, mudo meu terceiro Rondel para ABAB-BAAB-ABABA, ficando:

E só que te amo, bem baixinho, eu queria dizer!

Te puxando pra perto do meu corpo tão aceso...

Depois... te conduzir pelos caminhos do prazer,

Te banhar de gozo e com o que mais te faça teso.

Até te algemar, ao meu amor, te fazendo preso,

Brincar na cama, rolar gostoso nesse querer

E só que te amo, bem baixinho, eu queria dizer!

Te puxando pra perto do meu corpo tão aceso...

Queria, com avidez e luxúria, lamber e beber

O sal suado pelo teu corpo ao te fazer indefeso,

Dobrado ao meu delírio de fêmea e surpreender

Teu falo no meu ventre, sem compromisso ou peso,

E só que te amo, bem baixinho, eu queria dizer!

Mas há outras variações interessantes:

El rondel, ésta composición fue muy usada por Banville y en castellano la empleó mucho Belisario Roldán, fue la preferida por González Prada desde 1870. Ya en el Parnasso Peruano, publicado por J. D. Cortés (Valparaíso 1871), aparece un rondel de González Prada, titulado Aves de paso. La técnica del rondel es la siguiente:

15 versos divididos en tres o dos estancias. En los versos 9 y 15 se repite, como estribillo, la palabra o frase con que se inicia el primero. Ejemplo:

UN HOMBRE PASA LENTO

Un hombre pasa lento, con distancia,

es su adúcar ballesta con abrojos,

cuchillos de pavor sus grises ojos,

un hombre que olvidó que tuvo infancia

y bota las sonrisas cual despojos.

Se prohíbe del gesto leve y manso,

su rudeza le impide tal ungûento.

Se prohíbe del llanto su descanso...

un hombre pasa lento.

Un hombre recio, fuerte, cruel bastión,

un mármol prohibitivo de emoción

bóveda de aridez y sufrimiento,

míralo por tu espejo... ¿te adivinas?

¿Por esa misma acera tu caminas?

Un hombre pasa lento.

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Albadiosa

Breve tratado de literatura general, por Luis Alberto Sánchez, Ediciones Rosas, Madrid, 1939.

http://versosprofanos.blogspot.com/