Similitude
Quando insanos da selva arrebataram
o teu canto mavioso, oh, passarinho,
eu fui ver-te em inquieto torvelinho
na vil gaiola à qual te aprisionaram.
E na varanda onde eles te deixaram
para ficares sempre assim sozinho,
já sentindo saudade do teu ninho,
desesperados teus olhos choraram...
Cantaste o mesmo fel da minha vida,
padecendo os pesares e o desprezo
da existência que fora apetecida.
Somos dois iguais nesse atro penar:
tu, porque tens asas e estás bem preso,
eu, sem o amor que erguia-me a voar...