Deus ao contrário

agora que o espanto do meu sonho

pelos recantos velhos da cidade

se vai e se desfaz em som tristonho,

a minha alma se fina em saudade.

Sinto que a velha fada me atraiçoa

e com meu sonho fecunda as rosas belas

que depois a depor correndo voa

naquele altar sem deus sem lei nem velas

Como se um velho fado me regesse

para a ruína de todas a maior

e um deus ao contrário me coubesse

pra rezar mendigando que me desse

o destroço festivo do amor

a esmola de um silêncio pecador