Testamento nuncupativo de um poeta
Deixo encardido, sem assinatura,
este soneto, vão, defectivo...
deixo também um coração, cativo,
pra quem quiser fazer sua leitura.
Como uma fruta que ficou madura,
passou do ponto e apodreceu,
este soneto, assim como eu,
desintegrou-se em sua estrutura.
Perdeu o viço, o brio, a candura...
encalacrou-se em minha sepultura
como para provar-me que existira.
Inda que queira não farei censura,
pois estaremos na mesma fundura
a dar aos vermes toda nossa lira.