A Augusto dos Anjos

Ouvi um anjo, cujas asas eram minhas,

dizer em verso – sê bem vindo ao paraíso!

Eu esperava levantar em pouco tempo

daquele leito em chão batido de cimento.

Mas as palavras pareciam excrementos,

a recobrirem os meus mais gélidos lamentos

E o anjo inerte em tom solene insistia

– nosso Poeta encaminha-te um sorriso.

Fez, pois, menção de me sorrir com um olhar materno;

cheio de dentes, mas sem boca, e sem lábios;

sem paraíso, purgatório, nem inferno.

E a gente à volta insacia o verme hábil,

em suas tumbas revestidas ad aeternum

– uns foram anjos, outros poetas e sábios.