MAREMOTO

Empurrado por um eu mais depressivo

Calo os versos que não me deixam calar

Acomodo-os num soneto dispersivo

E remeto-os cá pro fundo do meu mar

Um profundo em que os eus que me confundem

Não desistem de tentar me recompor

Recompondo-se em ondas que me iludem

E ao quebrarem-se não quebram minha dor

Chegam à praia dos meus próprios pedregulhos

E desfilam aos meus olhos de Narciso

Refletindo meu semblante – minha foto

Depois voltam-se com um aparente orgulho

Me depondo os mesmos versos imprecisos

Decompostos neste falso maremoto