FERA ENJAULADA

Queria ser o rosto

Que aos teus olhos acalma

Mas como posso sê-lo?

Se em meus olhos reflete-se

Apenas minh'alma inquieta

Como uma fera furiosa

Meu coração não tem paz

Meu espírito se agita

Inquieto e irritado

Sombreando meu senho

Meu sorriso entortado

A luz do sol me agride

Tal qual o Drácula

Meu olhar embrutecido

Não transmite paz

Nem acalma

Tua luz não me pacifica

Ao que inquieta

Dentro de minha alma

Mas a luz do teu olhar

Me agita, me sacode

Me dá vontade de cantar

Quisera eu que a luz

Que provém do teu olhar

Viesse cheia de amor

Plena do teu carinho

Porém a luz do teu olhar

Aquece a fronte

De um outro coração

De uma outra alma

Que no entanto te faz chorar

Quisera eu ser essa fronte

Me banhar no calor

Dessa luz do teu olhar

Mas ela penetra minha carne

Queima meu semblante

Cheio de trevas e de ira

Desnuda minh'alma

Essa fera enfurecida

Que cai em prantos entristecida

De tal forma enternecida

Busquei em tantos olhos

Aquela ternura que não pacifica

Porém que a minh'alma adocica

Que seu calor lhe regozija

Mas pode um ser irrequieto

Um espírito insubmisso

Ter algum dia morada

No fundo dum coração perfeito?

Meu coração tempestuoso

Não busca mais a paz

Ilusória e fugidia

De outros corpos, outros olhos

Que não os teus

Olhos luminosos, sorriso doce

Irradiando a luz do teu amor

A um outro amo e senhor

Só penetram e atravessam

Minh'alma que deseja com tanto ardor

Só uma nesga do teu calor

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 10/02/2009
Reeditado em 12/02/2009
Código do texto: T1431514
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