PIRRAÇA

Nunca mais fez um verso, nunca mais!...

Já deve ter perdido a inspiração!...

Olhando a lua já não foi capaz

De fazer, como outrora, uma canção.

Das coisas belas já nem vê sinais,

Pressente, ao por do sol, a escuridão,

Olhando as cores – as enxerga iguais

E o seu lirismo já perdeu a unção;

Romântico que foi vendo as manhãs –

As portas de cristal de um paraíso –,

E vendo em tudo um bosquejar de riso...

Hoje, depois que o tempo deu-lhe as cãs,

Tirou-lhe o sal, tirou-lhe o doce e a graça,

E deixou-lhe o viver, só por pirraça.

Raymundo de Salles Brasil
Enviado por Raymundo de Salles Brasil em 04/05/2006
Código do texto: T150007