DOR E DESENGANO (*)
Inteiramente entregue à bebida,
Infame, eu fui jogado na sarjeta.
E sem poder erguer-me da valeta,
Um dia, eu quis por fim à minha vida.
Exausto, caminhava como errante,
Sem rumo, direção ou sem um norte.
Tão fraco, o meu corpo, outrora forte:
Somente um esfarrapado viajante.
E mesmo assim, só um farrapo humano,
Eu quis, mais uma vez, viver a vida,
Depois de tanta dor e desengano...
E quando lembro isto, ainda tremo:
Você me resgatou, minha querida,
Quase ao final desse caminho extremo.
(*) Este soneto foi composto para cumprir a promessa que fiz a uma amiga, aqui do Recanto, a quem eu disse, certa vez - recebendo dela a solidariedade por uma tristeza de amor, expressa num outro poema meu - que aquilo não era a minha própria história, mas, apenas, o resultado de um "insight poético". E concluí brincando que, para demonstrar isto, eu ainda faria uma poesia, dando-me por um ébrio, jogado na sarjeta, embora eu jamais houvesse vivido uma situação como essa. É este que aí está.
O autor