Amor concreto

De constante não posso ter-te ao meu lado;

Atenho-me, assim, ao fruir da memória,

Fazendo de cada momento uma história

Do sonho e do real jamais separados.

Tocar-te, assim como ao sol a se pôr,

Impossível – deveras – é concretamente,

Mas nada que com todo empenho não tente

Afirmar o anseio de um bom sonhador.

Insípido o intenso afeto a alguém,

Ante à grandeza ímpar do universo,

Até poderia eu em erro julgar.

Porém, não sou este; sou simples pulsar

Na estrelada ilusão em que estou imerso,

Pois sei que ao meu redor tu estás também.

= Observação =

Compus este soneto aos dezesseis anos (em 1992). Estava apaixonado por alguém da minha sala de aula – e, para variar, era um amor do tipo dito “impossível”. Uma poesia um tanto inocente... Mas é exata a transcrição do típico platonismo.